Era sobre um garoto de seus dez ou onze anos, que volta e meia era importunado por uns pirralhos - e uns não tão pirralhos assim - na rua ou onde quer que fosse.
Por sorte, o menino vítima da molecada, contava com um jovem "herói", que aparecia do nada para salvá-lo das agressões.
Só que o jovem era meio mal encarado e, terminando o ato fraternal, sumia, deixando o menino boquiaberto, já que o "herói" não gostava de paparicos, nem agradecimentos.
Pois bem.
Para o meio do filme, a vítima conseguiu quebrar o gelo, fazendo assim amizade com o anônimo, que era um adolescente como outro qualquer, que tinha sonhos e idealizações típicas de sua idade.
Mas por que o rapaz demorou tanto a ser "chapa" da vítima que ele sempre priorizava o salvamento?
Simples: ele tinha dificuldade de relacionamento e de confiar nas pessoas, porque tinha sido, como o garoto mais novo, vítima do bullying.
Por sofrer maus tratos na escola pelos colegas, o rapaz havia se traumatizado ao ponto de não acreditar em amizades; fechando-se, e fazendo o gênero "olha como sou mau", imaginava poder ser uma pessoa respeitada.
Criou massa muscular para melhor bater nos agressores, sempre respondia de mau grado a todos e fugia de qualquer sentimento mais meigo.
Nem preciso dizer o quanto o filme é bonito de se ver, o quanto me tocou os sentimentos nobres de superação e o quanto eu gostaria que esse filme se tornasse um clássico para melhor expandir a temática que precisa ser comentada e extinguida de nossa sociedade!
No final do filme ( que não vou contar!) vemos que eles superaram seus traumas, mas será que a vida real é tão bonitinha assim?
Bullying, para quem não sabe, é o ato de depreciar um colega, vizinho, criança ou adolescente que "destoe" de um grupo escolar ou de comunidade.
É usado esse termo geralmente para menores de idade, mas adultos também podem se sentir tocados pelo malefício do bullying.
Qualquer ofensa que acarrete em repetição do termo diariamente, constrangimento, trauma, é considerado bullying, quando não é aceito pela vítima do escárnio.
Um bom exemplo é quando uma criança é gordinha, e os colegas de sala colocam apelidos que magoam , quais: "baleia", "rolha de poço", "balão", etc.
O importante frisar é que a vítima geralmente não tem força para revidar, seja física ou psicologicamente, o que faz os ofensores se sentirem mais fortalecidos para "zoarem".
Não há classe social que predomine o uso horrível do bullying.
Pode existir em qualquer classe, o que dá um ar "democrático" a um abuso nojento da condição frágil do semelhante.
Inclusive a novela Caminho das Índias mostrou, num desses capítulos, essa prática.
Só porque um dos jovens era de descendência árabe, um grupo de bad boys liderado pelo personagem de Duda Nagle, se achou no direito de lhe bater até tirar sangue.
E um outro, por ser negro, personagem de Darlan Cunha.
Enquanto é apenas brincadeirinha de recreio, que quando entra na sala ou sai do colégio, ninguém lembra mais, é aceitável.
O problema se configura quando mais que "pilha" dos colegas, se torna agressão verbal e/ ou física diariamente!
O termo bullying não possui tradução perfeita.
Vem do verbo da língua inglesa "to bully", que quer dizer, "maltratar".
É algo perto de "bulir, "mexer", que os nossos conterrâneos nordestinos muito usam quando alguém tira um objeto do lugar ou quando um engraçadinho implica com o irmão, amigo, etc.
Minha vizinha costumava muito falar com um dos filhos implicantes assim:
-Páre de bulir com seu irmão, menino!
A prática diz, no entanto, que bullying é mais que "maltratar" ou "bulir".
Deteriora a auto-estima da pessoa, forma camadas grossas de ansiedade e angústia, cujas marcas muitas vezes são irreversíveis.
Os seriados americanos costumam fazer comédia com as cenas onde aparecem moleques surrando, literalmente, o colega.
Dá a impressão de não existir tal absurdo ao vivo.
O Todo mundo odeia o Chris é um ótimo seriado, mas ameniza as situações dos maltratos, mostrando Chris vencendo pela inteligência ou sorte, o perverso Caruso (que detesta negros), o que eu acho que não deveria, para que os menores entendessem a gravidade das cenas mostradas.
É de praxe algumas vítimas, "negociarem" a não-surra do dia.
Entregam a merenda ou dinheiro para "apaziguar" o agressor e assim poderem chegar em casa sem hematomas.
Quem dera fosse apenas coisa de filme como eu pensava!...
Há casos muito tristes como o de um americano bem jovem que, cansado de sofrer agressões diárias, não queria mais ir para o colégio.
Os pais, pensando que se tratasse apenas de birra de adolescente, o forçaram a continuar frequentando a mesma instituição escolar.
Vendo que o rapaz ainda retornava deprimido, a despeito de o terem trocado de turma, seus pais o colocaram em outro colégio.
Não adiantou.
Era no trajeto da saída de casa que as torturam ocorriam.
E o que aconteceu ( por Deus que eu não gostaria de ter que escrever esse final...) é o que já poderia se esperar, infelizmente: o rapaz se suicidou.
Através dessa e de outras histórias , que os americanos colocaram um artigo previsto em lei que uma pessoa que se sentisse atingida por agressões de qualquer natureza, poderia reclamar , tendo os seus ofensores presos.
"Mas a maioria dos casos de bullying envolve menores..."
Não tem problema.
São levados para unidades próprias para pequenos infratores.
O que me levou a escrever esse post, foi uma matéria que assisti por esses dias, num desses telejornais vespertinos.
Em São Paulo, já nesse primeiro semestre escolar, está sendo adotado pelos professores um manual para saberem como lidar com essa situação embaraçosa.
O aluno encontrará no professor um ombro amigo para expor seus desabafos, coisa que não era cabível antes, pela falta total de informação por parte dos educadores.
Mesmos os violentos, serão encaminhados a um professor que confie para explicar o que ocorre para praticar o ato tão reprovável.
Foi constatado que mais de 80% das crianças e adolescentes que cometem esse tipo de agressão, não tem consciência do prejuízo que estão causando ao próximo, ou seja, veem outros fazendo e imitam ( de repente até por influência de filmes e/ou seriados violentos).
Recebendo as informações devidas, um dos meninos admitiu que importunava o colega mas que não iria repetir a "maldade".
Não podemos nos esquecer que se tratando de menores, não há como saber a sua formação de caráter futura.
É indubitavelmente, um trabalho de conscientização entre vítimas e agressores.
( Mais uma responsabilidade para nós, educadores! Mas estou me sentindo útil, o que é excelente para o meu lado altruísta).
Espero que essas informações tão valiosas cheguem em todos os cantos de nosso país, se não do mundo, para que possamos ter uma sociedade mais limpa, decente, coerente com certos princípios.
Ao invés de distribuição do bullying, que nossas crianças aprendam a repartir mais amor e fraternidade, que emprestem seus materiais e aprendam a dizer : "Obrigado!", "Com licença!", "Desculpe!", "Por favor!", "Bom dia!", "Você é um(a) amigão(a)!", algo um tanto perdido na geração que está surgindo.
(Imagem: