No Carnaval, mais precisamente na terça última, tirei 1 hora mais ou menos do meu dia para assisti-lo, um longa de 2 horas e meia de duração.
Só que já era bem tarde, e o sono atrapalhou o bom entendimento da parte que vi, portanto, desliguei o DVD e me permiti uma análise mais profícua numa outra oportunidade, que foi por acaso, hoje mesmo.
Como é difícil "rotular" qualquer coisa que exista no mundo!
Sempre ouvi falar horrores do filme, que continha perversões tanto sexuais quanto as relacionadas à dignidade humana, que tem que tomar cuidado ao assisti-lo porque você pode tomar nojo de sexo, que aparece muita baixaria, violência, incesto, imundície (vide cena de Calígula urinando nas cortinas do quarto!), traições, orgias, etc, etc, e etc.
E todo mundo que falou isso está CERTO!
(Minha amiga chegou a me ligar - ela que me emprestou o DVD - para ver se eu tinha "aguentado" assistir...)
Inclusive por causa de tanto que o povo me recomendou, que o vi sozinha, por medo de sentir vergonha de alguém por perto!...
Ok, o filme é um "dedo na ferida" de nossa sociedade, ou melhor, na própria composição humana.
A sujeira dos atos daquele imperador romano devasso, soa como paralelismo à toada infame que nós todos entoamos, mas que creditamos ao "Ave César Calígula" como se apenas imperadores( e devassos!) pensassem em libertinagem...
Não gostei muito do filme, confesso, muito embora o meu desgostar nada aluda a conceitos de moralidade e choques "não me toque" de representante decente da classe feminina.
O meu desgostar vem da qualidade da fotografia (muito fosca), da confusão do enredo ( o aspecto linear da obra vira uma muvuca de imagens) e do maneirismo que imprimem à nudez e sexualidade dispensáveis que poderiam poupar ao expectador ( apelativo demais e igualmente ficcioso, não sendo à toa a saída de três diretores da direção).
Alô!!!! O filme é biográfico; será que a tara sexual de Calígula o levava a estar 24 horas por dia "no esquema"?
Usando-se só um pouquinho a lógica vemos que havia um desespero no diretor, produtor, sei lá quem, em transgredir, em mostrar que poderia fazer um filme bom, bonito e não barato, que não fosse DE sexo, mas COM sexo, o que corrobora para desmistificar a dúvida ( um uso de preposição adequadamente faz toda a diferença, não é mesmo?).
Já vi alguns filmes pornográficos muito interessantes, em que até traziam um fiapo de enredo, em que eu torcia para alguns "heróis" ficarem juntos no final.
Todavia, eu tinha consciência que a obrigatoriedade era explorar a sexualidade com os seus tons lascivos e fantasiosos, e não esmerar-se nas motivações dos personagens para chegarem àquela situação de "pecado".
Pelo excesso de cenas picantes, talvez essa fórmula mal usada no contexto, tenha causado a confusão de Calígula-épico com Calígula-pornográfico.
Vendo as cenas mais fortes em todos os sentidos, percebo que não dá mesmo para acompanhá-lo mastigando qualquer que seja o alimento ( uma moça na internet havia dito isso!): dá náusea!
Certas cenas não têm nem conotação pornográfica, e sim, de esvaziamento de alma; aquelas pessoas parecem bichos comendo, dormindo, "cruzando"( transando é que não é!...).
Bem, aprendi que jamais deve-se acompanhar uma obra com um conceito passado por terceiros, portanto, assisti ao filme com toda a liberdade de espírito, sem moralismo e puritanismo bobos.
Encontrei elementos que favorecem ao meu recordar futuro, como o fato da "nudez" da alma estar ali presente, isto é, não houve hipocrisia.
Se deixarmos as cenas de sexo explícito de lado ( esse filme já foi tão cortado, censurado, adiado, e cancelado por conta delas!) vamos conseguir ter um retrato um tanto fiel da Era Romana, e por que não até dos nossos dias atuais se pudéssemos invadir os lares e seus segredos?!
Será que a pergunta-título "Calígula: filme pornô?" faz sentido?
Será que o meu entendimento discorre às avessas do que acha a maioria?
Eu, com toda a honestidade, gostaria muito de saber...
(Imagem: