Por que todas as pessoas querem ser "únicas"?
Por que cada um de nós não se esmera em fazer um bom trabalho, o que já é bem profícuo?
Eu tenho duas formações paupáveis no Magistério: a de Professora I e II.
Professor I é aquele que tem formação acadêmica, e Professor II, é aquele formado apenas no Ensino Médio.
Para escolher na faculdade qual disciplina me formaria, foi relativamente fácil, já que sempre gostei demais de idiomas ( sem falsa modestia, sempre tive grande facilidade para tal), o que me levou diretamente para Letras, me habilitando para dar aulas a alunos de 5.a série até o 3.o ano do Ensino Médio.
Ser professora II , ou seja, dar aulas para discentes de 1.a à 4.a série, é que foi aquele problema!
Decisão difícil me entregar à uma profissão onde eu estaria alfabetizando mentes ainda bem tenras, com pouca maturidade para entender que estudo, saber ler, escrever, contar, etc., é de suma importância em sua vida como pessoas e cidadãs.
Esta tarefa de mediar o conhecimento( tenho que usar esse termo, se não os pedagogos que lerem isso, podem colocar minha cabeça a prêmio! ) até que foi bem acessível, já que há alguns anos trabalhava apenas em colégios particulares, cuja clientela parecia sempre "pronta" para a aprendizagem.
Até o dia...
... que fui convidada para fazer parte de um projeto de Reforço Escolar aos sábados em um colégio municipal ( naturalmente, público), recebendo como benefício do FNDE , apenas os custos de passagem e alimentação, o que sabemos ser o nosso "salário" em realidade.
Evidentemente que aceitei me integrar à equipe não pelo dinheiro ( seria louca se fosse por isso!), mas para entender a mecânica da mentalidade de uma criança com parcos recursos, que tivesse estudado a sua ainda breve vida em escolas para "pobre" (infelizmente a acepção da palavra, na prática, é essa mesma, por mais duro que seja aceitá-la...) e ver que sua realidade não é bem comercial de margarinas que se assiste na TV.
Eu fiz o meu Ensino Fundamental e Médio em colégios públicos e nunca achei esse "terror" que tanto falavam!
Aprendia quem se esforçasse, os professores estavam "lá", ou seja, eram o que poderíamos chamar de docentes, ensinavam e transmitiam valores.
Realidade de professor é diferente de realidade de aluno?
Estou sentindo uma barreira muito grande para "alcançar" meus alunos nesse reforço de sábado...
Quem são eles, meu Deus, que não reconhecem, em plena 3.a e 4.a séries, quando se trata de uma letra c ou t?
A maioria deles me foi indicada por problemas sérios de leitura.
Eles não sabem "ler"!
E agora????
Então mostro desenhos xerocopiados sequenciais de uma historia com transmissão de valores éticos e morais ( A historia de um menino que ganhara uma medalha e fica exibindo-a para a empregada da casa, que não sabia ler).
Peço para que façam breve análise de cada quadro e que surpresa: eles entenderam a historia!
Leram?
Não!
Simplesmente entenderam aquela "leitura" silenciosa, fizeram o que se chama de "leitura de mundo"!
E agora, que a vida escolar de uma criança não se limita a entender sentimentos ?
A minha formação docente, seja nível I ou II, não me permite "alcançar" aquelas crianças...
Sei que tenho que "revolucionar" no Magistério: ensinar aos alunos a "lerem".
Mas, primeiramente, eu mesma terei que descobrir o que para todo mundo é óbvio: o que é saber " ler"!
Continuo "jogando" um monte de letras "indecifráveis" no quadro e algumas eles estão conseguindo conciliar!
Quando faço o famoso ditado, eles até escrevem algo, e no entanto, o meu júbilo professoral vem em larga escala, quando fazemos nossas reflexões de cenas de TV, revistas que levo, assuntos do dia-a-dia e quando conto historinhas em papéis coloridos, sem nenhuma letra escrita, apenas com a "leitura", aquela escondidinha e tão transparente aos olhos deles!
A formalidade é de evidente importância, saber juntar letras e interpretar o que está escrito, é primordial na sobrevivência como ser pensante social.
Entretanto, temos que ter consciência que a melhor leitura é aquela feita pelo coração porque, passando por ele, sendo "galgado" pelos sentimentos, até a leitura formal, aquela de junção de letras e formação de palavras, virá mais facil e suavemente!
Professores, paremos de "torturar" nossos alunos!
Eles já sabem ler!
E aquele monte de caracteres ocidentais que servem para transmitir mensagens escritas, é melhor dar uma relaxada mental ...
Com o passar do tempo - sem querer fazer trocadilho e já fazendo - eles tiram de letra!
( Imagem:
Oi! Mary,
ResponderExcluirSua experiência demonstrou o contrário da situação em geral existente nas escolas, ou seja, as crianças devem aprender, a fim de entenderem.
Contudo, a psicolinguística fala que a compreensão é o modo pelo qual aprendemos. O aprendizado seria o efeito e não a causa. Saber ler é entender a leitura. Qualquer coisa que a gente não puder relacionar com a nossa teoria de mundo em nossa mente, deixará de fazer sentido pra nós. Abraços! Sheila.
Olá,José!
ResponderExcluirEstou "tateando" ainda c/ eles, querendo descobrir um mundo q parece ainda tão distente!...
Ensinar é bom ,mas de vez em quando nos esbarramos com essas "pegadinhas" da vida escolar! rsrsrs
Obrigada por comentário tão elucidativo!
Um forte abraço,
Mary.
Pois é, Sheila!
ResponderExcluirÉ dessa maneira mesmo q a maioria de nós aprende, fazendo assimilação de letras primeiramente, depois coordenando ideias com o signos linguísticos.
Só q meus alunos tem uma vivência prática incrível(irmãos menores q eles devem cuidar, pequenas compras q realizam no bairro, devem acordar cedo para fazerem a comida, etc.)e isso o transformam
em criaturas muito sábias, com grande capacidade de reflexão, coisas q às vezes não vemos em certos adultos.
Pelo o q vejo, devo buscar mesmo no mundo deles o tão cobiçado saber "ler", que a sociedade espera e exige de nós!
Seu comentário foi valioso!
Um abração da Mary p/ vc :-)