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sábado, 28 de setembro de 2013

Sangue Bom: barraco do bom todos os dias



Antes de qualquer coisa, eu gosto de Sangue Bom. Assisto sempre quando o tempo permite.
O título que coloquei aqui é apenas para ressaltar um fato: TODO DIA TEM BARRACO NESSA NOVELA!
- Por que será? - Eu pergunto.
Não li em nenhum lugar que seria uma obra de cenas sangrentas ou de personagens violentos. O enredo não sugere brigas tão truculentas onde, a cada capítulo, algum personagem tenha que apresentar um hematoma em parte do corpo.
Só sei que, cômica ou tragicamente (uma tragicomédia habita o meu ser!) espero, com risos envergadores de estômago, a alguma dessas passagens barraqueiras no capítulo do dia.
É incrível que não falhe quase nunca. Eu me sento para assistir,  e lá vem algo atingindo alguém, que pode ser desde os rotineiros socos, a arremessos de objetos - pesados ou não - em direção a se pensar...
Claro que não posso deixar de lado uma vaidade, de achar que os autores andaram lendo um texto de minha autoria, intitulado É uma arte não ser barraqueiro, onde descrevo que as pessoas, para se controlar, têm que fazer um sacrifício.(Delírio, obviamente! Mas bem que eu gosto de imaginar que tenham lido a minha criação literária, e por isso se inspiraram...)
No início, quando os barracos se tornaram frequentes, eu ficava revoltada, achando apelativo demais autores inteligentes embarcarem na mania de "porrada" que o povo costuma ter.
A lembrança de que tipo de obra se tratava,  me fez retornar à realidade. Novela é para atender a apelos, sim, como obra aberta, como trabalho desenvolvido para o entretenimento do seu público.
Ignoro o porquê do gozo popular pelo "sangue alheio" - o que a audiência alta dos jornalísticos sensacionalistas não me deixam mentir -,  sei que a veracidade mora nisso: brigas dão prazer de se assistir...
Aliás, em via de regra, novelas mostram seus barracos bem deslavados, onde ofensas públicas a este ou aquele, embalam as noites novelísticas. Horário pode até ser nobre,  a desavença, no entanto, é bem modelo "povão". A baixaria não é "privilégio" de gente humilde...
Por esses dias (ontem ou anteontem) um dos personagens, se envolveu em duas confusões no mesmo capítulo! Érico, interpretado por Alexandre Babaioff, levou um soco de Maurício (Jayme Matarazzo). Voltando para casa, foi Bento (Marcos Pigossi) quem desfechou uma direta em seu rosto! Ah, não espere a minha contenção do riso. Meia hora passada, e dá-lhe gargalhada minha pelas duas passagens de costume, marcas registradas da ficção!
Se aquela "algazarra" que alguns vizinhos fazem, sobretudo certos casais inflamados, causam nossa audição aguçada, no auge de suas discussões, o que dirá numa novela, já que sabemos que aquilo não passa de encenação? Acho que há muito de sadismo em nós, não revelado, é verdade, de vermos o sangue não-sangue, da briga não-briga, do soco não-soco... Queremos a  "bagunça" , desde que esta não nos atinja, seja de "mentirinha".
Ando meio com medo de mim, que sempre detestei barulhos, tanto os meus, quanto os dos outros. Sou da paz. Meu medo se instalou porque Sangue Bom me acostumou mal, muito mal! Agora estou viciada nesses barracos tempestuosos, não gosto mais de capítulos sem quizumba... O de hoje, sábado, foi enjoado! Tudo muito certinho e com  muito chororô! Com direito até a rebelde Geane (Isabella Drummond), se revelando apaixonada para o quase marginal Fabinho (Humberto Carrão)...
Mesmo parecendo sem coesão o que argumentarei, garanto que não é. De um certo modo, as confusões violentas desta novela são até bem saudáveis!
É que as ofensas físicas ou verbais não passam do que realmente são, troca de farpas momentâneas, nada de sacar  armas de fogo ou emboscada para tirar a vida de alguém (apenas umas poucas exceções atrapalham minha linha de raciocínio), o que encaro como coisa que difere de outras obras.
Enquanto uma Bárbara Ellen (Giulia Gam) não passa do limite da ofensa,  o arrancar de cabelos de sua principal rival Tina (Ingrid Guimarães), outra em seu lugar, ou no mesmo porte de loucura que esta, já planejaria com um comparsa, tirar a vida da inimiga. Maltrato em Sangue Bom, é tratado no "Olho por olho, dente por dente". Se alguém xinga, o outro responde à altura. Se alguém empurra, também será empurrado. Até o mais canalha dos vilões, o Wilson (Marco Ricca), anda comportado: no máximo solta uns impropérios para aquele que não sabe ainda que é seu filho, o Bento.
Barracos necessários... Audiência necessária!  No horário entre às 18h30min e 20h30min, a TV aberta está cercada por sangue por todos os lados! Jornalísticos da Band, Record, SBT estão lá na apresentação do circo real da vida, com os monstruosos assassinatos, assaltos, acidentes, explosões... A saída da Globo foi levar para esse horário através da novela, uma demonstração do que acontece de verdade, de maneira a parecer "brincadeirinha".
Não culpo nada, nem ninguém. "Quem está na chuva, é pra se molhar", como diz o ditado. Se a TV aberta precisa dessa audiência, busque-a, com os artefatos de guerra que exigem a luta.
 E já que me viciei mesmo, nem adianta, que não trarei nenhum discurso implícito dos bons costumes: que continuem os barracos!
Meu único pedido é que haja mais texto antes da chuva de porrada começar. Essa de apenas verem o desafeto de longe, e os personagens já dançarem o balé da agressão, confesso que disso, não sou nada fã!...

(Imagem:
Fonte desconhecida)


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