quarta-feira, 4 de abril de 2012

30 anos de Tootsie

(Dustin Hoffman,perfeito no papel de uma mulher em Tootsie)

"Um homem que vira mulher"... É o que insistem em definir o majestoso filme Tootsie com o esbanjadamente talentoso ator Dustin Hoffman.
Mais que uma obra de "mudança de gênero situacional", Tootsie é uma das mais importantes da história do cinema!
É considerado gênero comédia, embora entre um riso e uma mordiscada no lanche que se esteja devorando, enxerga-se a profundidade dos atos de desespero.
O personagem de Dustin, um ator fracassado que precisa pagar as contas, se aventura em travestir-se de mulher para abocanhar o papel em uma telenovela. Sucesso tão estrondoso acontece, que ele tem que agir dessa maneira também na vida real.
Maquiando-se a rigor, convence. Convence pelo poder que temos, pela necessidade de sermos o que precisamos ser, o que o estômago, que fornece não só a fome física, mas de alimento de alma, exige, e saímos "rasgando" padrões, pedindo licença porque queremos passar...
Hoffman é um desses artistas que fazem o que querem: absurdamente bom em seu talento natural, a dramaturgia agradece por ele não ter ido para outras vértices de arte!...
Na minha leiga opinião, é disparadamente a melhor performance do ator, ainda que destaque Perdidos na noite como quase igualmente notório (também gostei de sua atuação em Kramer X Kramer, mas não o curti muito em Rain Man. Infelizmente, me soou como caricato demais...).
Não por acaso, é considerado uma das melhores comédias já encenadas na sétima arte, e - devo repetir-, Hoffman estando em uma das suas melhores atuações, tendo o premiado Sidney Pollack, como o diretor. (Vale o destaque para as 9 indicações para o Oscar e as 6 horas de maquiagem para que o ator se tornasse uma mulher convincente. Sim, e que o nome Tootsie foi uma sugestão de Dustin, um apelido de infância dado por sua mãe).
30 anos de Tootsie... Incrível que ainda seja tão real, as adequações que fazemos para nos virarmos para a existência! Mentimos, escondemos, disfarçamos, encostando em algum canto, a tendência natural de querermos fazer o que é certo... O personagem dá a impressão de que, se não fosse vestir-se de mulher, seria QUALQUER outra coisa por um papel que lhe garantisse comida na mesa e o reconhecimento do público.
Eu era adolescente quando o assistira na Sessão da Tarde e a despeito da já bem percorrida estrada, o filme mostrou-se encantador! Quando avistei Dustin naqueles trajes femininos, juro que pensei que fosse um dublê: eu vi uma mulher e não um homem trajado qual uma!...
Para o lado de Michael (seu personagem na ficção) andaria tudo às mil maravilhas, se não fosse o amor ( ai, o amor, sempre ele!). Como não demonstrar sua afeição profunda pela companheira de elenco (que não sabia que Michael se tratava de um homem), que buscava nele um suporte psicológico para se sentir uma grande atriz e que o convidara a passar um fim-de-semana em sua casa, sem interesse, apenas por que adorava a sua companhia? Era pedir demais não amar a quem nos quer tão bem...
Ele não era o que chama de uma pessoa doce. Seu temperamento rabugento já fizera com que vários diretores não o contratassem. Só que a personagem vivida por Jessica Lange (sua magnitude em cena lhe rendeu o Oscar de melhor atriz coadjuvante) despertou naquele homem soberbo o bastante para se sentir o maior, uma ternura desconhecida. Influenciado pela colega de trabalho, pelo próprio travestimento que lhe exigiam horas de composição em sexo feminino e pelo filhinho da colega que tivera o prazer de conhecer no fim-de-semana mágico, aquele homem começou a despertar para o humano perdido que lhe escapara em tempos idos.
Aconselho, por fim, aos amantes de trabalhos de qualidade, a dar uma olhada com muita atenção nesse filme. E se quem o assistir não esteja com vontade alguma de rir, nem de refletir, assista apenas a uma cena.
Há uma passagem triunfal onde a obra poderia começar e terminar ali onde, vestido como a personagem da novela, Hoffman pela janela assiste a amada e seu filho correndo pelo quintal coberto de sonhos. A lágrima e o amor, a vontade e o desmantelo, a liberdade e a perda, a inocência e a sagacidade... Ali, tudo reunido numa única transmissão de que vale a pena existir!
E se quem assistir quiser chorar, se deixe lavar pelas "cascatas" dos olhos! A música It might be you, de Stephen Bishop é, sem precisar de contexto, por si só uma lembrança de que ainda temos um coração. A humanidade para aqueles que se esquecem de apenas serem...

A passagem inesquecível de Tootsie, para a nossa apreciação!!!!





(Imagem:
http://cinemaepipoca.blogspot.com )

8 comentários:

  1. Mary... Você acredita se eu disser que nunca vi Tootsie? E também nunca havia lido uma resenha tão convincente sobre um filme. Mesmo! Achei linda a forma como você descreveu o enredo. Me fez ficar com muita vontade de assistir. E me trouxe, de certa forma, a remota lembrança - por se tratar de uma pessoa travestida e por ter o amor à espreita tentando estragar o disfarce - do Livro Grande Sertão: Veredas. Claro, completamente diferente, mas com essas semelhanças reavivaram minha memória.

    Enfim, quando eu assistir ao filme te digo se a expectativa que tu criou em mim foi correspondida, hehehehehehehe!

    Bjs, Lari!

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  2. hehehehe Nem me surpreendo mais, Lari, meu doce!

    Esqueceu-se da nossa tendência de correr da obviedade cinematográfica? (Menina, esse filme foi reprisado à exaustão na década de 90! rs)
    Agora até fiquei com medo por ter falado tão bem do filme! (Obrigada pelo elogio!!!!)
    É que toda vez que comentamos sobre qualquer obra com muito ardor, quem vai conferir fica decepcionado! (Foi o que aconteceu com "O Rei Leão"! Fui assistir e não achei lá essas coisas... kkkkkkkkkk)
    De qualquer maneira, Lari, se for assistir ao filme, assista-o com a mente aberta, isto é, esqueça tudo o que falei.
    Bem, eu só garanto que, mesmo que você não goste muito dele como eu gosto, vai ter algo que marcará em você. A interpretação de Dustin ou de Jessica, a cena com a música "It might be you", a personagem Tootsie e sua maquiagem carregadíssima, as tomadas de estúdio do canal televisivo... Enfim, depois você me conta! rs

    Beijos, querida!!!!
    (Esse filme pode entrar para a sua lista de "Eu nunca..."! rs)

    Mary:)

    P.S.: Faz lembrar um tanto mesmo, o tema!
    Na parte da Diadolim, mulher que se veste de homem, é parecido porque a personagem se apaixona pelo Riobaldo, o que de certa maneira a atrapalha!
    AS ficções estão repletas de disfarces para se sobreviver nesse mundo selvagem! rs

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  3. Tenho o Hábito de muitas vezes escolher os filmes pelos atores, é o caso de Al Pacino, Jack Nicholson, e Dustinh Hoffmann, entre outros, No caso de Dustin desde Tootsie, o primeiro filme que assisti com ele, Cine Yporanga, no Gonzaga, em Santos onde vivia à època, hoje já não existe, como tantos outros cinemas, esse virou loja de departamentos, outros tantos igrejas pentecostais, mas o filme perdura e até hoje faz rir, faz torcer, Dustin conserva o talento, e já foi plageado em tantas novelas que talvez possa ter perdido a força pela diluição, mas quem o viu a época com certeza sorriu ao ler a menção que seria dele que trataria o post. Obrigado por suscitar doces lembranças.

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  4. Djair, meu querido amigo!

    Eu meio que sou assim também, escolher filmes por atores...
    No caso de "Tootsie", foi porque me chamou a atenção o tema, um homem que se disfarça de mulher e abocanha o papel principal (fiquei curiosa para saber como ficaria...).
    Ainda bem que minha curiosidade valeu a pena: me "entreguei" a Hoffman ali, naquele filme!!!!
    Achei o contexto atraente, muito bem escrito, bem interpretado pelos atores principais igualmente. Em temas quais esses, é natural que o diretor perca o foco, mas não no caso de "Tootsie", que se manteve fiel do princípio ao fim.
    Honestamente, amigo, podem as novelas imitarem o filme como for, mas arrisco um palpite e digo que JAMAIS um ator vai me convencer de ser uma mulher como fizera Dustin!
    Não é só lascar uma maquiagem e ter um texto legal. É preciso alma feminina e o "indecoroso" do Hoffman ( ele invadiu minha área, como pôde? rs), o fizera de maneira ímpar!!!!

    Obrigada digo eu!!!!
    Um dos posta mais gostosos de escrever foi esse para mim, por também trazer-me lindíssimas lembranças!!!!

    Abração da Mary!:)

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  5. Trinta anos e eu nunca vi esse filme, acredita, Mary? rs Mas gosto muito do Dustin Hoffman. Um filme que eu adorei e que ele participou (mesmo sem muito destaque) foi "O Dia Depois de Amanhã". Isso só citando um exemplo, claro. Mas tentarei ver esse. Gostei da homenagem em forma de dica para casos como o meu! Beijos

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  6. Sérgio, querido, boa noite!

    Isso acontece... Eu mesma já cansei de deixar filmes importantes passarem "batidos"... (Meu lado cinéfila não dá conta de ver tantos maravilhosos! rs)
    Dustin Hoffman, se não o maior, está na minha lista Top 5, dos magistrais atores que já vi atuando!
    Tenho certeza que, se você não gostar de "Tootsie", ao menos alguma cena você vai curtir. É um tipo de obra que nos conquista, seja de que maneira for!
    E amei sua dica!!!! (Vou tentar achar esse com o Dustin!)

    Um abração e obrigada pelo comment!!!!

    Mary:)

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  7. Minha amiga Mary Miranda digo-lhe que nestes meus longos anos já assisti diversas vezes esta série sobre "Tootsie" que cada vez que assisto sempre percebo algo como novo e que nos faz refletir sobre assuntos da nossa atualidade e do Universo bem particular de cada ser humano, por isso só posso aqui registrar e agradecer a oportunidade de rever e relembrar através de sua postagens muitas situações até mesmo engraçadas e outras nem tanto, mesmo assim valeu por isso ok!

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  8. Boa noite, Charles!

    O bom de uma obra importante, é que sempre achamos elementos interessantes a cada vez que assistimos. É o caso de "Tootsie" que, a despeito de seus 30 anos, é um trabalho atual, mostrando particularidades de cada um de nós, seres humanos.
    Algumas cenas são mesmo bem engraçadas, mas outras nos fazem refletir, o que faz do filme uma obra completa!

    Um abraço, amigo!
    Muito bom que tenha vindo!!!!

    Mary:)

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