Haiti, pequeno país da América Central, de uma hora para outra veio à baila em rodas de conversa de diversos níveis sociais, culturais, emocionais...
Por conta de uma tragédia (100 mil seres humanos morreram até agora, devido ao terremoto que arrastou casas e vidas), o citado país não está passando desapercebido porque é sempre tão humanamente inconcebível que vidas sejam ceifadas e achemos que isso é normal...
Ufa! Contradição da grossa essa que irei cometer, mas me rendo: como é bom saber que ainda nos abalamos com a desgraça alheia!
Ufa! Ainda há muito de humano em nós, eu que ardentemente defendo a humanização dos animais!
Bem longe desse Haiti da tristeza atual, havia um outro Haiti, o da tristeza social crônica , cantada vigorosamente por um Caetano Veloso e um Gilberto Gil muitíssimos inspirados, e que servia de comparação com a balbúrdia à brasileira, a de sempre: racismo, mortalidade infantil, favela, violência...
Em letra amarga, conquanto verossivelmente crítica, a dupla de compositores baianos mandava a mensagem em meados de 90, com seu "Haiti", já nos colocando para refletir constantemente, ferindo o nosso conceito de dor ( nós sempre achamos que o nosso dissabor é maior que o do outro!).
Analisem os versos viscerais e percebam que o Haiti é aqui, seja lá por que prisma esteja se vendo...
HAITI - Caetano Veloso e Gilberto Gil
Quando você for convidado pra subir no adroda Fundação Casa de Jorge Amado pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos
Dando porrada na nuca de malandros pretos
De ladrões mulatos e outros quase brancos
Por conta de uma tragédia (100 mil seres humanos morreram até agora, devido ao terremoto que arrastou casas e vidas), o citado país não está passando desapercebido porque é sempre tão humanamente inconcebível que vidas sejam ceifadas e achemos que isso é normal...
Ufa! Contradição da grossa essa que irei cometer, mas me rendo: como é bom saber que ainda nos abalamos com a desgraça alheia!
Ufa! Ainda há muito de humano em nós, eu que ardentemente defendo a humanização dos animais!
Bem longe desse Haiti da tristeza atual, havia um outro Haiti, o da tristeza social crônica , cantada vigorosamente por um Caetano Veloso e um Gilberto Gil muitíssimos inspirados, e que servia de comparação com a balbúrdia à brasileira, a de sempre: racismo, mortalidade infantil, favela, violência...
Em letra amarga, conquanto verossivelmente crítica, a dupla de compositores baianos mandava a mensagem em meados de 90, com seu "Haiti", já nos colocando para refletir constantemente, ferindo o nosso conceito de dor ( nós sempre achamos que o nosso dissabor é maior que o do outro!).
Analisem os versos viscerais e percebam que o Haiti é aqui, seja lá por que prisma esteja se vendo...
HAITI - Caetano Veloso e Gilberto Gil
Quando você for convidado pra subir no adroda Fundação Casa de Jorge Amado pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos
Dando porrada na nuca de malandros pretos
De ladrões mulatos e outros quase brancos
Tratados como pretos
Só pra mostrar aos outros quase pretos(Que são quase todos pretos)
Como é que pretos, pobres e mulatos
E quase brancos, quase pretos de tão pobres são tratados.
E não importa se olhos do mundo inteiro
Possam estar por um momento voltados para o largo
Onde os escravos eram castigados
E hoje um batuque, um batuque
Com a pureza de meninos uniformizados de escola secundária em dia de parada
E a grandeza épica de um povo em formação
Nos atrai, nos deslumbra e estimula.
Não importa nada: nem o traço do sobrado
Nem a lente do Fantástico, nem o disco de Paul Simon.
Ninguém, ninguém é cidadão.
Se você for ver a festa do Pelô,e se você não for
Pense no Haiti, reze pelo Haiti
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui.
E na TV se você vir um deputado em pânico mal dissimulado
Diante de qualquer, mas qualquer mesmo,qualquer, qualquer
Plano de educação que pareça fácil e rápido
E vá representar uma ameaça da democratização
Do ensino de primeiro grau
E se esse mesmo deputado defender a adoção da pena capital
E o venerável cardeal disser que vê tanto espírito no feto e nenhum no marginal.
E se, ao furar o sinal, o velho sinal vermelho habitual
Notar um homem mijando na esquina da rua sobre um saco de lixo brilhante do Leblon
E ao ouvir o silencio sorridente de São Paulo
Diante da chacina de 111 presos indefesos, mas presos são quase todos pretos
Ou quase pretos, ou quase brancos,quase pretos de tão pobres.
E pobres são como podres e todos sabem como se tratam os pretos
E quando você for dar uma volta no Caribe
E quando for trepar sem camisinha
E apresentar sua participação inteligente no bloqueio a Cuba
Pense no Haiti, reze pelo Haiti.
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui.
Só pra mostrar aos outros quase pretos(Que são quase todos pretos)
Como é que pretos, pobres e mulatos
E quase brancos, quase pretos de tão pobres são tratados.
E não importa se olhos do mundo inteiro
Possam estar por um momento voltados para o largo
Onde os escravos eram castigados
E hoje um batuque, um batuque
Com a pureza de meninos uniformizados de escola secundária em dia de parada
E a grandeza épica de um povo em formação
Nos atrai, nos deslumbra e estimula.
Não importa nada: nem o traço do sobrado
Nem a lente do Fantástico, nem o disco de Paul Simon.
Ninguém, ninguém é cidadão.
Se você for ver a festa do Pelô,e se você não for
Pense no Haiti, reze pelo Haiti
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui.
E na TV se você vir um deputado em pânico mal dissimulado
Diante de qualquer, mas qualquer mesmo,qualquer, qualquer
Plano de educação que pareça fácil e rápido
E vá representar uma ameaça da democratização
Do ensino de primeiro grau
E se esse mesmo deputado defender a adoção da pena capital
E o venerável cardeal disser que vê tanto espírito no feto e nenhum no marginal.
E se, ao furar o sinal, o velho sinal vermelho habitual
Notar um homem mijando na esquina da rua sobre um saco de lixo brilhante do Leblon
E ao ouvir o silencio sorridente de São Paulo
Diante da chacina de 111 presos indefesos, mas presos são quase todos pretos
Ou quase pretos, ou quase brancos,quase pretos de tão pobres.
E pobres são como podres e todos sabem como se tratam os pretos
E quando você for dar uma volta no Caribe
E quando for trepar sem camisinha
E apresentar sua participação inteligente no bloqueio a Cuba
Pense no Haiti, reze pelo Haiti.
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui.
(Imagem:
4 comentários:
Olá querida amiga Mary,
Parabéns pela postagem. Boa escolha.
Um texto excelente, profundo e reflexivo.
A letra da música é realmente comovente.
Gostei muito.
Carinhoso e fraterno abraço,
Lilian
Salve, minha querida e sempre linda Confrade!
Quero deixar bem claro antes de tudo, que não sou mórbido ao ponto de achar que exista algo de bom ou de belo em má notícia, porém, sempre que lhe venho pedir a honra de desfrutar seus textos, sou tomado de uma emoção que, se não pode ser descrita como prazer, é, no mínimo, "exótica" pois, a franqueza e a beleza simples com que você discorre sobre assuntos de tão profunda equivalência, me causam deveras um certo... "frisson"!
Agora, quanto ao que há de socio-polílito-filisófico na canção dos nosso monstros sagrados da MPB, eu devo dizer-lhe que, o compromisso da arte é, antes de tudo, com o belo e no seu curso imediato, com o mundo que a cerca, daí, que certos artistas - como os nossos -
possuem esse dom sutil e implícito de profetizar a realidade que nos
cerca, expondo a escara plangente de nossas mazelas sociais, tão engenhosamente camuflada pela retórica inescrupulosa dos
intectualóides manipuladores do sistema em todos os tempos da história, fazendo que a fala clarividente da arte, torne-se uma síndrome de cassandra, sempre gritando o anúncio da tragédia, sem que jamais lhe deem o devido crédito!
Muito obrigado por me proporcionar mais este momento de reflexão!
O Cavaleiro Virtual te abraça em terno carinho...!
Este sempre teu Confrade: Max Costa
Mary, que postagem!!! Profunda.
Quanto a musica, havia ouvido, e a composição de imagens é de fazer pensar.
Bjs
Oi, Lilian!
Obrigada, linda!
Essa música sempre me coloca p/ refletir, não tem jeito...
Há muitos Haitis por aí, inclusive no Brasil, embora nos sintamos "superiores" a eles, q burrice a nossa!
Um abraço p/ vc também!
Mary.
Oi, Max!
Primeiramente, q maravilha vc por aqui prestigiando um post meu!
E como sempre, vc discursa tão bonito e eficientemente q só tenho mesmo q louvar cada palavra!
É fato, amigo, q nenhum artista gostaria de atar o sublime dom da música-q é arte - e cujo compromisso seria apenas c/ o lado estético, c/ aspectos depreciativos sociais, de usar termos um tanto acres, c/ expressão dolorida e o choro sobre a bandeira da "Mãe Gentil".
No entanto, é nessas horas q a genialidade dos standards de nossa música "dizem a q vieram", ou seja, rompem c/ os "rótulos" e se fazem valer dos seus talentos reais p/ serem artistas e gente, honrando o nosso cancioneiro c/ preciosidades quais "Haiti".
Voltada p/ o social, p/ o mais humano q há em nós, uma "Haiti" não é música p/ ser arremetida nos autos da ignorância q assola o País e o Mundo.
Música p/ ser usada como vértice de ligação entre o povo e a elite hipócrita e sermos mais brasileiros no sentido da conscientização.
E mais uma vez destacando a sua propriedade, Max, ao enfocar sobre o dom profético de Caetano e Gil, algo de tal impressão, q custamos a acreditar q sejam apenas artistas e não vaticinadores da sociedade...
Querido, vc me bota p/ escrever, ahn? rsrsrs
Adorei o seu comentário e espero vê-lo outras vezes c/ elucidações quais as do post!
Um abraço bem forte, c/ gosto de felicidade por vê-lo de volta!
Mary.
Oi, Sissy!
Não haja dúvida, amiga!
Nunca vi casamento tão perfeito entre Caetano e Gil, q acertaram a mão, c/ o tom certo entre o estilo e a amargura na palavras.
Gosto muito dessa música!
Grande beijo,
Mary.
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