PARA QUEM AMA GATOS

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segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Entre Letras e letras





Muitos escritores têm escrito sobre seus conflitos básicos, existenciais, e muitos deles falam da expressão através da escrita. Eu gosto de escrever, e para longe de mim se vá a pretensão de me equiparar aos grandes mestres - seria uma quase blasfêmia!- ao explicar motivações que me levam a querer também transpor para o papel meus sentimentos. Gostaria apenas de me entender! Quase como se fosse um tratado psíquico-sintomático do que me ocorre.O que me leva a querer escrever? Talvez eu consiga ser mais explícita através do poema abaixo. Quem sabe?...






Entre Letras e letras



Escrever é uma arte.
Uma arte vívida onde só os corajosos enfrentam o leão feroz da indigência.

Uma arte onde só os solitários suportam, porque é solitário não existir.
Onde a força é plena, e o descaso é animal, voraz.
Escrevo porque sou teimosa. Nasci assim. A minha natureza me chama.

Mas, verdade seja dita.

"Eu apenas existo quando escrevo". Doce Clarice Lispector já dissera isso.

Shakespeare , em Hamlet , já indagaria :"Ser ou não-ser".

Então, escrevo.

Opto em "ser", em "não-ser". Sou o que eu bem entendo!

"Dizem que sou louca/por pensar assim". Rita Lee, mutante como ela só,expôs solenemente a sua aversão pelo "normal".

Tento domar o que há de mais inenarrável em mim, o louco, O monstro inabitável, como um certo dia tentara conter Sérgio Sant'Anna. Será que conseguiu? Ou o leão faminto permanece com fome?

Então, escrevo.

Sou infinitamente eu quando fujo de mim.

Mil pessoas numa só, como faria uma única pessoa : Fernando Pessoa.

Gasto horas a fio na arte das letras ,pensando em como transformar A insustentável leveza do meu ser, em algo que se pode sustentar , exibindo para o mundo a minha rudeza, o meu peso. Milan Kundera que se faça "insuportável" para que possamos entendê-lo!

Então, escrevo.

Para falar dos outros, da verossimilhança das artes com o real e que quando nos damos conta, é a realidade que imita a arte!

Dos antigos gregos, com suas festas em homenagem ao deus Dionísio do vinho, do passado e as odisséias, do calor das Mil e uma noites, tudo é motivo para se relatar, transladar, estirar, viajar, domar...

Sou Loreley também. Teatralizo lascando a persona de palhaço, maquiando até a alma para fugir do que sou . Uma aprendizagem ou seria O livro dos prazeres, ou os dois? Oh, doce Clarice, faça-me suficiente para ser apenas o que o mundo quer que eu seja, e perdoe-me por recorrer à sua sapiência de quem foi , ou quis ser, apenas uma aprendiz!

Falo de amor, sim.

O homem feito de tórax viril, de penugem branda amenizando as suas poucas saliências do peito, os braços calorosos para me receber , e o beijo longo que suga todo o meu ser... ou não-ser.

É por isso que escrevo...

Onde mais eu poderia ter a audácia de dizer que sou feliz?

Onde mais eu poderia me redimir com a palavra, definindo delírios com a soberba dos maiorais?

Onde mais eu poderia ser pedante?

Onde mais eu poderia mergulhar no mar , me molhar, e dizer para ninguém mergulhar?

Olhar de soslaio para o mundo, dando aquele desprezo, por saber-me longe dali?

Ver as pessoas como elas são e aceitá-las ?

Ser o alvo e a solidão, e ter um coração em chamas para o bem-viver?

Sou assim.

A minha natureza me induz.Aquele instinto animal de sobrevivência, impulsiona o meu corpo para a caça infinita. E caço, e caço, e caço...

Porque a leoa que há em mim, é voraz :está sempre faminta e essa fome, é só de escrever!

Então, escrevo...













4 comentários:

Victor S. Gomez disse...

Estou precisando de amigos assim como você, que gostem de escrever e que saibam o que escrever e como escrever. Um grande abraço.

Mary Miranda disse...

Victor,
Muito obrigada pelos elogios!
Todo mundo que escreve precisa de estímulos tais como esse, para continuar escrevendo com gosto!
Um forte abraço e pode contar c/ a minha amizade "bloguística"!
Mary

Anônimo disse...

Seu texto é muito bom, são poucas as pessoas que conseguem se expressar na escrita de forma clara e correta.

Anônimo disse...

Catarino,
Muito obrigada!
É agradável a mim ler coisas assim, como vc falou!
Gosto de escrever coisas não só p/ mim, mas q possa agradar ao outro também.
Costumo dizer:
Escrevo o q me agrada, e saber que alguém se agrada c/ o q escrevo!
Um abração da Mary.

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