Muitos escritores têm escrito sobre seus conflitos básicos, existenciais, e muitos deles falam da expressão através da escrita. Eu gosto de escrever, e para longe de mim se vá a pretensão de me equiparar aos grandes mestres - seria uma quase blasfêmia!- ao explicar motivações que me levam a querer também transpor para o papel meus sentimentos. Gostaria apenas de me entender! Quase como se fosse um tratado psíquico-sintomático do que me ocorre.O que me leva a querer escrever? Talvez eu consiga ser mais explícita através do poema abaixo. Quem sabe?...
Entre Letras e letras
Uma arte onde só os solitários suportam, porque é solitário não existir.
Mas, verdade seja dita.
"Eu apenas existo quando escrevo". Doce Clarice Lispector já dissera isso.
Shakespeare , em Hamlet , já indagaria :"Ser ou não-ser".
Então, escrevo.
Opto em "ser", em "não-ser". Sou o que eu bem entendo!
"Dizem que sou louca/por pensar assim". Rita Lee, mutante como ela só,expôs solenemente a sua aversão pelo "normal".
Tento domar o que há de mais inenarrável em mim, o louco, O monstro inabitável, como um certo dia tentara conter Sérgio Sant'Anna. Será que conseguiu? Ou o leão faminto permanece com fome?
Então, escrevo.
Sou infinitamente eu quando fujo de mim.
Mil pessoas numa só, como faria uma única pessoa : Fernando Pessoa.
Gasto horas a fio na arte das letras ,pensando em como transformar A insustentável leveza do meu ser, em algo que se pode sustentar , exibindo para o mundo a minha rudeza, o meu peso. Milan Kundera que se faça "insuportável" para que possamos entendê-lo!
Então, escrevo.
Para falar dos outros, da verossimilhança das artes com o real e que quando nos damos conta, é a realidade que imita a arte!
Dos antigos gregos, com suas festas em homenagem ao deus Dionísio do vinho, do passado e as odisséias, do calor das Mil e uma noites, tudo é motivo para se relatar, transladar, estirar, viajar, domar...
Sou Loreley também. Teatralizo lascando a persona de palhaço, maquiando até a alma para fugir do que sou . Uma aprendizagem ou seria O livro dos prazeres, ou os dois? Oh, doce Clarice, faça-me suficiente para ser apenas o que o mundo quer que eu seja, e perdoe-me por recorrer à sua sapiência de quem foi , ou quis ser, apenas uma aprendiz!
Falo de amor, sim.
O homem feito de tórax viril, de penugem branda amenizando as suas poucas saliências do peito, os braços calorosos para me receber , e o beijo longo que suga todo o meu ser... ou não-ser.
É por isso que escrevo...
Onde mais eu poderia ter a audácia de dizer que sou feliz?
Onde mais eu poderia me redimir com a palavra, definindo delírios com a soberba dos maiorais?
Onde mais eu poderia ser pedante?
Onde mais eu poderia mergulhar no mar , me molhar, e dizer para ninguém mergulhar?
Olhar de soslaio para o mundo, dando aquele desprezo, por saber-me longe dali?
Ver as pessoas como elas são e aceitá-las ?
Ser o alvo e a solidão, e ter um coração em chamas para o bem-viver?
Sou assim.
A minha natureza me induz.Aquele instinto animal de sobrevivência, impulsiona o meu corpo para a caça infinita. E caço, e caço, e caço...
Porque a leoa que há em mim, é voraz :está sempre faminta e essa fome, é só de escrever!
Então, escrevo...
4 comentários:
Estou precisando de amigos assim como você, que gostem de escrever e que saibam o que escrever e como escrever. Um grande abraço.
Victor,
Muito obrigada pelos elogios!
Todo mundo que escreve precisa de estímulos tais como esse, para continuar escrevendo com gosto!
Um forte abraço e pode contar c/ a minha amizade "bloguística"!
Mary
Seu texto é muito bom, são poucas as pessoas que conseguem se expressar na escrita de forma clara e correta.
Catarino,
Muito obrigada!
É agradável a mim ler coisas assim, como vc falou!
Gosto de escrever coisas não só p/ mim, mas q possa agradar ao outro também.
Costumo dizer:
Escrevo o q me agrada, e saber que alguém se agrada c/ o q escrevo!
Um abração da Mary.
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