Não importa se tentamos acertar, o caso é que, com aquele epíteto de SERES RACIONAIS - portanto, sabedores e com o direito de comandar os seres "inferiores" - só estamos perpetuando nosso rastro de mágoa e dor.
Sempre me entristece muito o reconhecer da inferioridade e mesquinhez da minha raça dita humana!
Como somos pequenos, metidos, idiotas!
Bem, meu enfoque aqui é sobre o conhecimento recente de dois casos antiquíssimos e reais, do tempo da minha avó, literalmente, que me deixaram um tanto reflexiva.
As histórias são bem semelhantes entre si e fulguram naquelas injustiças que podemos cometer corriqueiramente, "do nada", quando achamos que aquilo jamais nos aconteceriam.
O primeiro caso foi de uma família americana que havia saído e deixado o filho sozinho, tendo como companhia apenas o cachorro de estimação, de porte grande e robusto.
Na volta, o casal encontra o menino desacordado, com algumas porções de sangue pelo pequeno corpo ainda franzino.
O cachorro também estava ensanguentado e perto da criança, aparentando cansaço.
Que conclusão a que o casal chegou?
- Aquele cão odioso atacou nosso filho!
Com uma arma que o marido tinha o porte, ele deu dois tiros no animal, matando-o sem pestanejar.
Mais tarde, acordado e com a consciência plena, o menino pergunta pelo seu companheiro de quatro patas.
Os pais o avisam que deram cabo nele pois o animal malévolo o havia ferido.
Em prantos, o garotinho grita, desesperadamente:
- O que vocês fizeram?! Ele me salvou! Um urso havia entrado aqui e ele lutou até conseguir matá-lo! Vão na cozinha para ver se o urso não está lá morto...
Quando entraram no local que o filho indicara, com que estupefação o casal não constata a dura realidade do que fizeram: o urso morto, ou seja, a injustiça contra o amigo de anos!...
O segundo caso foi em minha família, por parte do meu avô paterno, um homem decente, trabalhador, mas grosseiro, infelizmente.
Meu avô e minha avó moravam na roça, logo, o ambiente propício para a criação de animais diversos.
Dentre os tantos, havia uma gatinha ( não sei o nome), muito mansinha e delicada, que costumava ficar na cozinha para fazer suas refeições e dormir.
Nunca havia pulado sobre a mesa para pegar comida!
Ficava "mocinha" esperando a sua refeição que vinha na hora certa (Ela já sabia o horário e só miava pedindo nesse horário).
Um dia meu avô comprou peixe ( a tentação dos felinos!) como tantas vezes o fizera e foi logo avisando, quando minha avó o havia preparado:
- Esse bocado aqui é meu! ( umas três postas de peixe) Não quero que ninguém pegue!
Pôs sobre a mesa, dentro de uma travessa.
Saiu para o roçado na ânsia de retornar e servir-se da porção que havia separado.
Em seu retorno, cadê o peixe? Sobre a mesa, só a travessa vazia!
A pequena felina estava lá, sono solto, ronronando gostoso o seu soninho de gata...
- Que gata miserável! - pensou ele - Comeu o meu peixe e agora está aí, dormindo, com o pandulho cheio!
Enraivecido, serviu-se de sua espingarda de caçar passarinho, e lascou-lhe uns tiros, que a matou na hora (papo fiado de que gato tem sete vidas!).
Minha avó escutou os estampidos, e veio correndo para ver o ocorrido.
Com ar de justiceiro, meu avô contou-lhe a história.
Consternada, minha avó apenas disse:
- Homem, que burrada a sua! Eu só troquei o peixe de lugar. Estava dando muita mosca...
Olhe ali o seu peixe dentro da panela!...
Coisas que acontecem com pessoas normais, justas, honestas, trabalhadoras!
O que muito me choca é saber que não somos melhores que nenhuma dessas pessoas que fizeram essa ignorância!
Podemos a qualquer momento estarmos nessas situações e agindo da mesma forma.
E o que muito me choca também é por se tratar de animais.
Eles têm boca, mas não sabem falar...
Vocês conhecem algum caso de injustiça contra animais?
Sintam-se livres para narrá-lo, se assim o desejarem!
(Imagem: