domingo, 8 de maio de 2016
Análise de "Nem Luxo, Nem Lixo", com Rita Lee
A música escolhida para análise é Nem Luxo, Nem Lixo, cantada por Rita Lee, de composição dela e Roberto de Carvalho. Do ano de 1980, do álbum Rita Lee, é uma das mais conhecidas da cantora e compositora.
A obra parece falar da dualidade humana, do jogo de contradições, que é o nosso objetivo de vida.
Uma hora queremos uma coisa; em outra hora, outra coisa. Rita Lee, como uma das maiores letristas da música popular brasileira, trabalha com as palavras como ninguém.
Comecemos já pelo título: Nem Luxo, Nem Lixo. "Luxo" algo glamouroso, chique; "lixo", algo desprezível, brega. Troca-se uma letra, de "u" para "i" e temos um oposto tão conhecido em nossa língua!
Desbravando os versos, vemos:
"Como vai você/ Assim como eu/ Uma pessoa comum/ Um filho de Deus/ Nessa canoa furada/ Remando contra a maré/ Não acredito em nada/ Até duvido da fé". Rita, nesses versos, mostra com nitidez o jogo que lhe é tão particular: fazer o oposto. "Nessa canoa furada/ Remando contra a maré", nos dá o entendimento de que a pessoa está nesta enrascada, mas que acredita que vai se safar, praticamente querendo o improvável. Demonstra ser uma pessoa de fé, que acredita no Deus do impossível, embora haja uma contradição nos versos que seguem. Analisemos: "uma pessoa comum , e "um filho de Deus", mas que "não acredita em nada", que "até duvida da fé", como pode imaginar que vai conseguir sobreviver as intempéries da vida? Que coisa mais oposta a pessoa acreditar que é "filho de Deus", e "não ter fé" ao mesmo tempo que rema com vigor contra os problemas, crendo que tudo melhorará...
Uma curiosidade é que Rita, nos últimos tempos, não sei a pedido dos fãs ou igreja - ou simplesmente uma mudança de ideia dela própria - não canta mais "Até duvido da fé", e sim, "Só não duvido da fé". Realmente a letra original era um tanto pessimista...
No refrão:
"Não quero luxo/ Nem lixo/ Meu sonho é ser imortal, meu amor/ Não quero luxo/Nem lixo/ Quero saúde pra gozar no final". Aqui esbarramos com o "luxo" e "lixo". Interessante que a personagem parece não ligar muito para a vida que leva, mas tem certo apego à ela, já que sonha em ser imortal. Só que na contradição típica do ser humano, ressalta que "quero saúde" para "gozar no final" da vida. Se a pessoa sabe que vai morrer um dia, por que então vai sonhar com imortalidade quando estiver na trajetória derradeira de sua estada terrestre? É que até mesmo as pessoas ditas "comuns" como sugere a letra, têm sonhos megalômanos, como o já citado o de ser "imortal", como que, no fundo, não quisesse ser "mais um" andando na multidão.
A personagem não se satisfaz com as condições que a vida lhe impõe, mas não reclama. Querer mudar o rumo de sua própria história é normal.
E não querer "luxo" e "lixo" é da natureza humana, é da busca incessante de se auto afirmar.
Se analisarmos com maior profundidade, "luxo" não é tão diferente de "lixo" assim. O que é "luxo" de hoje, será o "lixo" de amanhã, assim como o "lixo" de hoje é o "luxo" futuro, através da condição chamada reciclagem.
Buscas de afirmação sempre esbarram com contradições. Se em uma hora se é forte, em outra, o vigor se esvai.
Deve-se viver desse ou daquele modo, entre sonhos e incertezas. O negócio é prosseguir, não se deixar levar e "remar contra a maré", ainda que "a canoa" esteja "furada"...
Vídeo de Nem Luxo, Nem Lixo - Rita Lee
(Imagem:
Fonte desconhecida
Edição de imagem:
https://www.facebook.com/MaryDifattoOficial)
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário