PARA QUEM AMA GATOS

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sábado, 8 de janeiro de 2011

Sol e chuva, casamento de viúva


Gota à gota, um traçado de pingos e raios formou-se naquele quintal vespertino.
As folhas chamuscadas de luz e encharcadas de lágrimas celestes.
Vi o território de pés descuidados cheio da água límpida e brincalhona, voluptuosa, sem o decoro coerente à chuva de verão comum.
Fascinante aquela água traduzida em Sol, um canto harmônico sobre os frutos em formação!...
Ah, que delícia seu frescor arrancado do chão ainda acre do calor do dia!
Que liberdade de expressão em poucas palavras!
Um quê de ternura e parcimônia, ao mesmo tempo que esbanjava beleza e ardor!
Quem nunca se emocionou ao descortinar sua janela e avistar o encontro amoroso do Sol e a chuva, o casal risonho que molha os anseios e seca as amarguras?
Os pássaros, quando se recolhem, não imaginam essa proeza que o céu tinha na sua cartola natural para fazer a mágica.
Os bem-te-vis ficam tinindo de frustração porque a Mãe Natureza roubou-lhes o legado do dia, de serem os mais falados e argumentados, com seus debochados cumprimentos: "Aham, bem te vi!"...
Já era!...
Sol e chuva pegaram emprestadas as pipas dos fios dos postes e fizeram um balanço cordial com os fluxos tilintantes do começo do despertar da luz elétrica.
Umas cigarras metidas tentaram entrar na roda mas, preocupadas com a própria sobrevivência, seu canto de acasalamento teve que se resguardar para outra ocasião...
Nunca tinha ouvido tantas crianças gritando de frêmito por uma chuva!
"Ah, mãe, 'tá chovendo, 'tá chovendo!...", alardeavam pelo megafone pueril.
Um corre para guardar as roupas da corda.
Um corre para botar os chinelos na sala.
Um corre para ver se o cachorro tinha entrado na casa.
Um corre para a fresta da janela...
E um vozerio másculo, em bando, avisando o que todos já sabiam:
"Olha ela aí, rapá! Não é que ela veio mesmo?", entremeando as frases com uma risada gostosa, mais delirante que, ao invés de chuva, fossem suas namoradas chegando...
Porque ela não era uma chuva.
Era "Sol e chuva, casamento de viúva"!
A viúva que me perdoe, mas ela é apenas fosco objeto de rima, porque as estrelas que brilham de verdade são o Astro-Rei e sua namorada, a repentina Chuva, que mesmo às vezes fazendo seus estragos, tem no companheiro caloroso sua redenção de qualquer dor causada.
Que paradoxo biruta, de vermos lógica em quente/frio se misturando!
A partir de hoje vou pingar sopa fervendo no sorvete!
"Kibom!", alguém vai gritar!...
Brincadeira imbecil porque existem casamentos que não funcionam...
Mas Sol e chuva é casamento que funciona, sim, porque, apesar de opostos, se casaram por amor!
Se ambos fossem gente, fico delirando e idealizando seu diálogo:
"Amor", diria a Chuva, "faz um chazinho pra mim! Estou com um frio danado..."
Ele, o Sol, romântico, amoroso e prestativo, diria:
" 'Tá bem, amor!"
Só que ele tem suas cálidas fantasias, e pediria à ela, após vê-la aquecida em seus braços:
"Querida, dá pra partilharmos agora uma cervejinha?", com um beijo quente estalando na boca sedenta da amada.
E ela, mais acalorada pelos braços vigorosamente masculinos do marido:
"Hum, até que não seria má ideia..."
Assim viveriam felizes para sempre, qual nos contos-de-fada, sabendo respeitar as diferenças de gosto que cada um tem.
Não sei por que mas sempre tenho um sentimento de explosiva diversão quando os dois se encontram!
Parece que ambos querem nos ver tangidos no bom-senso, algo de espetacular sutileza ecoando na razão: "Eis a contradição que pode ser normal!", o cérebro em desalinho, responde.
Toda vez, toda vez, eu páro os meus momentos de paz para devanear Sol e chuva!
A cançãozinha ribombando enfadonhamente alegre na cachola: 'Sol e chuva, casamento de viúva; chuva e Sol, casamento de espanhol!"
Uma reverberação que se forma na gotícula do flamboyant é para alertar que água é incolor, mas traz todas as cores!
Revelação para os distraídos, que pensam que a vida é absoluta, quando é relativa, qual um grão de arroz ser apenas resto de comida no prato humano e banquete de dias para as formiguinhas que correm desarvoradas sobre a mesa onde 'cataram' o mesmo alimento branco...
Às vezes acho que essa molecagem que o imprevisto nos prega é para sabermos da indigência com que tratamos os nossos afazeres, nosso viver, nosso estar aqui, qual cavalos com sua 'viseira', olhando para um lado só!...
Eu poderia ter saído mais cedo para comprar umas coisinhas, mas deixei pra depois!
-Não vai chover hoje! Com esse Sol!...
E ele, o Quinta Grandeza lá em cima, 'zoando', chamou a amada para curtirem com a minha cara!
- Aninha é muito mais alta que o namorado,- alguém pode dizer em algum lugar nesse Planeta - não vão formar um bom par...
E Aninha e o namorado se casam, tem filhos, e nunca se viu casal mais lindo e entendido entre si!
Osvaldo mora perto do trabalho, não precisa pegar transporte e se encontrava insatisfeito; esse trabalhador agora pega dois ônibus, tem que inteirar a passagem e o sorriso está estampado em cada canto da boca!
Venham contrastes, venham imprevistos, venham porque vocês também são amados e aceitos!...
Assim, gota à gota ligada, encerrou minha tarde chuvosa-solar.
A noite vinha, me entreguei ao cansaço do dia.
Fui tomar banho, e ler Seleções.
Numa outra oportunidade eles vêm, o Casal Maravilha, e mais uma vez gastarei meu tempo me 'preocupando' com seu vitorioso enlace.
Entregue às coisas do tempo, faço-me refém do ambiente que a natureza me transmite!
Sol e chuva, aquele do casamento de viúva, são a melhor resposta para meu desconserto, e se 'roubam' a minha paz, entorpecendo minhas ideias momentaneamente, trazem a fantasia e o sonho de uma vida inteira!
Eu me rendo!...

P.S.: Esse encontro Sol/Chuva ocorreu na bela tarde de 6 de janeiro de 2011.


(Imagem:
http://danielalabarce.blogspot.com)

12 comentários:

CLAUDIA disse...

Minha linda e amada Mary!
Menina do meu coração,minha linda Deusa da escrita,que coisa mais linda esse primoroso texto.
Sol e chuva, casamento de viúva,sabe amiga amo eles juntos,me lembra muito minha infância no interior de MG,quando chovia nós corríamos para a rua e ficava de braços abertos rodopiando feito um pião,kkkkkk!
Nós crescemos e esquecemos como é bom fazer isso!
Me lembro também voltando da escola,uma chuva danada,e eu descalça,pisando nas poças de água,e não demorava o arco-íris dos seres encantados,aparecia em forma de um conto de fadas.
Amiga que lindo que nostalgia nos traz esse seu texto,me lembro de tantas coisas boas,kkkk!
Escolhi uma parte para mim amiga:
Às vezes acho que essa molecagem que o imprevisto nos prega é para sabermos da indigência com que tratamos os nossos afazeres, nosso viver, nosso estar aqui, qual cavalos com sua 'viseira', olhando para um lado só!...
Amiga arrasou ,realmente esquecemos de olhar para os lados,de sentir tudo que esta ao nosso redor,de sorrir com as pequenas que na verdade são grandes felicidades.
Quem observa a natureza,sabe ouvir o canto de Deus amiga.
Amei a parte das formiguinhas,na viagem que fiz para a casa de meus Pais,conversando com meu papys que é um apreciador da natureza,ele falou para mim,observa filha essas formiguinhas,como elas trabalham sem parar para conseguir o alimento,eu fiquei junto com ele observando,kkkk!
Ele me disse: É quando podemos ver o quanto Deus é perfeito!
Eu fiquei olhando para ele,e ele esta com toda razão,meu papys um sábio,não é a toa que todos os bichinhos amam ele.
Bom amiga,queria lhe parabenizar por esse encanto de texto que me deixou altamente nostálgica no bom sentido é claro.
Você merece é milhões de parabéns ,esta lindo demais.
Te adoro menina linda,kkkk!
Bjos em seu coração com cheirinho de Jasmin.

Anônimo disse...

Querida Cacau, o chocolate mais doce que já tive notícia!

Essas sandices que a natureza nos causa, não? rsrs
Quem em sã consciência poderia investir um tempo de sua vida pra ficar olhando esses imprevistos, senão gente como nós, que ama a natureza e a sente perfeita em nossos corações?
Aprender a apreciar o que é 'anormal', é também uma dádiva pra mim...
Essa bagunça, né,amiga, que um Sol, tão quente, pode fazer com a chuva, tão fria, ensinando que as diferenças, o que surge de repente, satisfazem, quando se quer mesmo viver?!
Ah, eu também adorava essas sapequices com a chuva, pé descalço, e talz! rsrsrs
E sempre curti o trabalho penoso das formigas e seus grãos imensos.(Caramba! Como elas conseguem equilibrar aquilo tudo no corpinho miúdo????)
Cacau, querida amiga, no dia que eu não puder mais apreciar essas maravilhas, considere-me oficialmente 'ida'.
o verbo aqui é 'idolatrar'.
Idolatro a natureza!!!!

Beijos, linda!
Também te adoro!!!!

Mary :)

Hugo Green disse...

Gostei muito da história romântica e engraçada do casamento do sol e da chuva. Na quarta-feira aconteceu aqui na minha rua choveu fazendo sol sempre quando isso acontece eu falo que é o casamento da raposa aprendizado de quando se é criança mas você me deu um novo entendimento obrigado .

A história tem um vocabulário incrível gostei bastante nota-se que uma escritora e tanto.

Abraço.

Lari Bohnenberger disse...

Mary, eu nunca na minha vida li um texto tão lindo e inspirado sobre um encontro natural. O casamento entre o Sol e a Chuva é uma das coisas mais emocionantes que existem. Até porque, é dessa improvável união que nasce um dos espetáculos mais lindos da natureza: o arco-íris.

Parabéns, foi delicioso ler este post.

Bjs!

Mary Miranda disse...

Oi, Hugo!

Até eu mesma ri do que escrevi sobre o casamento do Sol com a chuva! rsrsrs
Acho que seria mais ou menos aquilo mesmo, os dois seriam diferentes, mas se curtiriam bastante...
Puxa, me amarro nesse encontro deles!
Páro qualquer coisa para assisti-los!...
Obrigada digo eu a você, pelos elogios e pela belíssima participação!

Um abração,
Mary:)

Mary Miranda disse...

Olá, querida Larissa!

Nossa! Estou tocada, viu?
Obrigada,amiga!
Se escrevi algo de bom e bonito, agradeço a esse espetáculo Sol/Chuva que sempre me emociona!
É verdade, Lari, daí vem o arco-íris quando a dupla surge!
Mas interessante que dessa vez não vi esse fenômeno maravilhoso!...
Caso o tivesse visto, eu iria rapidinho até o final dele para achar o pote de ouro! rsrs
Brincadeira, porque não estou nem aí pra esse negócio de ouro!
Eu só quero mesmo é ser feliz e fazer os outros igualmente felizes!!!!

Beijos, e obrigada mais uma vez pelo comentário tão oportuno e incentivador!

Mary :)

Anônimo disse...

se uma visão que me agrada é essa: sol e chuva.

sobre a paz, texto do manga chupada, é pura ironia. deixei, no meio do texto, alguns links pra ilustrar. usei o texto do millôr como escada. só isso.
volta lá e abre os links pra vc entender.

beijo.

Anônimo disse...

Olááá minha queridíssima Musa da escrita !!!

Nossa, que delicioso seu texto !!!
Sabe que sempre que acontece este fenômeno, não consigo deixar de lembrar do velho "Sol e chuva, casamento de viúva" ?
E gostei da maneira como colocou a reflexão que isso nos traz sobre os imprevistos, as incoerências e contradições maravilhosas que acontecem por aí , assim como este encontro inusitado, e que embelezam nossas vidas, apesar de muitos olharem com olhos conservadores.
E como você citou, que venham os contrastes e os imprevistos, pois são aceitos para quem está com o coração aberto !!
Adorei como sempre, minha querida !!
Um super beijo !!

Mary Miranda disse...

Oi, Rê!

Sol e chuva é um dos casamentos mais esperados por todos nós! rsrs

A história da 'paz', vou verificar com calma, ok?
Obrigada!!!!

Beijos,
Mary:)

Mary Miranda disse...

Oi, Menina Sorriso!

Sam, uma das coisas que mais mexe comigo nessa vida, é o encontro desses dois!
E a musiquinha tocando ao fundo,'Sol e chuva, casamento de viúva'... rsrs
Isso mesmo, amiga, fico feliz que pense como eu, de deixar esses contrastes, imprevistos, o que sejam, virem, porque são eles que abrilhantam nossa estada aqui!
Inclusive você mesma escreveu um post belíssimo onde enfocava que a vida não podia ser previsível, no que concordo plenamente.


Um beijo grande, Samzíssima, e esperemos sempre mais um Sol/Chuva para nos pegar de tão agradável surpresa! (Menina, nesse 06/01, que me inspirou o post, choveu foi muito e o Sol sorrindo lá em cima, é mole? Eu n unca tinha visto cosia igual...Espetáculo lindo!!!!)

Mary :)

Christian Messias disse...

Olá MAry,

Lembra da Cápsula do Tempo que você deixou no início do ano passado. Convico você a vir conferir se seus desejos foram concretizados...

Espero que lembre e visite o blog!

O Link é http://dihitt.com.br/dihitt/redir/7740224

Mary Miranda disse...

Oi, Christian!


Lembro do post, mas não lembro do pedido...
É nessas horas que descobrimos que 1 ano passa mais rápido do que se imagina! rsrs
Vou dar uma passadinha para conferir!
Obrigada por me alertar!

Abraços,
Mary:)

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