domingo, 27 de setembro de 2015
Resenha de "Bellini e o Labirinto" - Tony Bellotto
Uma grata surpresa obtive, digo logo de cara, quando terminei de ler o livro do titã Tony Bellotto, Bellini e o Labirinto.
A surpresa se dá porque, apesar de saber o quão culto Bellotto é ( ao assistir Afinando a Língua na TV Futura, que ele apresenta, percebemos isso), não esperava que conseguisse segurar a barra de escrever, com desenvoltura, um romance detetivesco. Não adianta: falou de detetive, é Agatha Christie que nossa mente traz à baila.
No entanto, já nas primeiras linhas encontramos um personagem coeso e bem definido, no sentido de dizer "a que veio", que tão bem faz ao leitor para situá-lo no que o espera num determinado texto.
E "compramos a briga" do detetive Bellini.
Não farei spoiler, naturalmente, mas devo esclarecer que a história gira em torno de um sequestro de um dos irmãos da dupla sertaneja fictícia Marlon e Brandão (o sequestrado foi Brandão), que coloca o investigador no labirinto que dá nome à história.
Quando penso que o músico, doublé de escritor Tony Bellotto, irá se perder na própria armadilha que criou (imaginei que se afundaria naquele labirinto e não saísse mais de lá), eis que pega as amarras de sua escrita e coloca quem lê, de volta ao interesse inicial, que é desbravar o mistério do sequestro.
Jogada de mestre de Tony, ao arremessar no nosso colo, algumas conclusões as quais nos é permitido chegar. Eu, particularmente, adoro raciocinar com o investigador encarregado de algum crime, sobre as supostas saídas para qualquer que seja o "labirinto" literário.
Uma leitura fácil e gratificante temos em mãos.
Não corre dos clichês, porém, a ficção. Bellotto, que não é bobo nem nada, tentou ser o mais fiel possível ao filão do personagem emblemático tão presente em trabalhos neste gênero. Remo Bellini é desbocado, sarcástico, beberrão, mulherengo, solitário e... excêntrico . Ele está certo. Como mudar a "ordem natural" dos grandes pesquisadores criminais da literatura, depois que os mestres Agatha Christie e Arthur Conan Doyle "impuseram" a maior das características, que é a excentricidade? Hercule Poirot e Sherlock Holmes possuem essa prerrogativa tão festejada do bom detetive. Talvez também o escritor brasileiro quisesse dar um aspecto macho ao texto, algo meio que maniqueísta de que seres do sexo masculino têm que ser subversivos, esquisitos... Aquela espécie de neura, de quase todo escritor homem, de querer provar para o público, que seu texto não tem alusão a "frescuras" femininas, como sentimento e sexo monogâmico. Sendo bem underground, ele pode ser lido por qualquer pessoa, em qualquer lugar sem susto.
Nem o excesso de referência a músicas estrangeiras no gênero favorito do personagem central (ele adora blues), tirou o brilho da história. Confesso que a não brasilidade das canções mencionadas, me angustiou um bocado. Aquela coisa de ser uma das poucas criações literárias tupiniquins no ramo da investigação, tão bem escrita e logo ela não levantar bandeira musical em nosso idioma?... Repito: não tirou o brilho. Porque as muitas passagens nos situaram em terra brasilis: a dupla sertaneja ser de Goiás, por exemplo, é pátria nossa, com certeza!
Além dos topônimos do estado da região Centro-Oeste e São Paulo - e a riqueza na descrição -, houve citações de nomes de sertanejos famosos como Chitãozinho & Xororó e Zezé di Camargo & Luciano, nos proporcionando, gostosamente, um ar de identidade.
Muito cultural e informativo (sem didatismo), bem humorado, instigante, objetivo, Bellini e o Labirinto é literatura para se conhecer. E mais: é para se querer conhecer o resto dos outros envolvimentos do ébrio detetive. O livro que deu origem a série foi Bellini e a Esfinge, mas também há Bellini e o Demônio e algum(ns) outro(s) que me falha a memória.
O mais interessante da obra é que, assim como o autor fez questão de retirar o detetive daquele labirinto aparentemente de saída impossível, nos retirou, os leitores, também de lá. Tony Bellotto é escritor que se coloca no lugar de quem o lê.
Uma sensação de historia concluída nos vem no término da obra. É como se tivéssemos ajudado Remo Bellini a resolver o caso.
Essa ideia de participação não tem preço. "Dever cumprido" é a frase de efeito que mais define nosso pensamento de pós leitura!...
(Imagem:
Fonte desconhecida)
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