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quinta-feira, 23 de junho de 2016

Análise de "Metamorfose Ambulante" - Raul Seixas


Do ano de 1973, Metamorfose Ambulante foi cantada e composta por Raul Seixas, lançada no álbum Krig-há, Bandolo! (Curiosidade: Esse nome se refere ao grito do Tarzan, cuja tradução mais aproximada é: "Cuidado, eu mato!")
Mas, do que se trata a letra? Fala do quanto é ruim sermos acomodados, sempre à espera que os outros façam, eternamente agarrados a dogmas antigos.
É uma letra tão completa, que pode ser usada em qualquer esfera de nossa sociedade, seja na educação, na política, no trabalho, no dia-a-dia. Como se fosse um abaixo-assinado contra a monotonia, um grito libertador para evitar o preconceito e a pré concepção de ideias, que geralmente são frutos da paralisação mental, algo passado de geração para geração por uma espécie de preguiça para mudar o rumo de qualquer situação insatisfatória.
Já no título, temos uma boa visualização da mensagem da música: Metamorfose Ambulante.
Todos nós, seres humanos, temos capacidade de mudar de opinião, conceitos. E no início dos versos, o personagem afirma:
"Prefiro ser/ Essa metamorfose ambulante/ Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo." Ele esclarece que ser essa coisa "esquisita", vamos dizer assim, algo que muda tanto, é melhor que ser acomodado, achando que é sábio, muito inteligente, com algumas informaçõezinhas que adquiriu na vida.
Ele prossegue:
"Eu quero dizer/ Agora o oposto do que eu disse antes/ Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante". Aqui, uma das marcas de Raul Seixas: a ironia. Raul era tão irônico, que eu tomo a liberdade de argumentar que ele era o nosso Machado de Assis na música brasileira. A parte sarcástica se encontra em: "o oposto do que eu disse antes". Oras, ele não falou nada de contrário! Continua afirmando que prefere ser uma metamorfose ambulante. Como dissesse: "Se você ainda não me ouviu, ouça agora!"
Nos versos: "Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo/ Sobre o que é o amor/ Sobre o que eu nem sei quem sou", ele mostra a sua fragilidade enquanto ser, aquele dos "porquês" da vida, que surgem. Afinal, quem sabe com exatidão sobre o amor, sobre quem é você mesmo(a) com total verdade? Muitas vezes não sabemos nem o que queremos, somos, e já temos "fórmulas mágicas" para resolver problemas alheios, "teses" que, na prática, de nada adiantam.
A  mutação do próprio existir, da inconstância da vida, se dá em:
"Se hoje eu sou estrela/Amanhã já se apagou/Se hoje eu te odeio/Amanhã lhe tenho amor/Lhe tenho amor/ Lhe faço amor/ Eu sou um ator". É  tudo tão passageiro, efêmero... Hoje você tem brilho, amanhã pode não ser assim. Um dia você odeia, amanhã ama, depois odeia de novo, tem prazer, finge que ama, finge que odeia... É porque a pessoa está no palco da vida, e ela é um tanto cíclica, bem inexplicável, por isso a importância de mudarmos o jeito de pensar, as atitudes, muitas vezes. A vida, por si só, é uma grande metamorfose;  nada continua da mesma forma que inicialmente era...
Ele prossegue afirmando que não gosta de comodismo:
"É chato chegar/ A um objetivo num instante" e usa novamente de ironia:
"Eu vou desdizer aquilo tudo que eu disse antes/ Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante". Até o fim ele frisa, para que as pessoas todas compreendam bem, que ele repugna as ideias que não permitam o livre pensar, repetindo várias vezes que quer ser alguém sem amarras, com pensamento próprio.
Um hino contra toda a imposição. Afinal, um dos axiomas dos seres pensantes é: "Todo homem nasce livre". E se temos o livre arbítrio, temos o direito de sermos quem queremos ser, ou pensamos que queremos ser...

Vídeo de Metamorfose Ambulante - Raul Seixas

Em tempo: Essa análise teve certas passagens usadas no vídeo do Gui Farias, do canal Pensando Nisso.
Meus agradecimentos ao Gui pela generosidade.
Quem quiser conferir, clique abaixo!



(Imagem:
Fonte desconhecida
Edição de imagem:
https://www.facebook.com/MaryDifattoOficial)

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