Conto de hoje: Gêmeas de Corpo e Alma.
Da antologia IMPREVISTOS DE UMA VIAGEM COTIDIANA, de Mary Difatto.
Toda quinta-feira, uma nova publicação.
Bons "imprevistos de viagem"!
GÊMEAS DE CORPO E ALMA
Elas
eram gêmeas. Duas mulheres feitas, unidas pelo nascimento. Partilhavam de tudo
juntas. Gêmeas de corpo e alma.
Por uma grande
força do destino, apesar de gêmeas bivitelinas, ou seja, formadas com óvulos e
placentas diferentes, eram muito parecidas.
Karen e Karina,
os seus nomes.
Tinham a
irmã mais velha, que elas pouco se comunicavam. Irmãos gêmeos são mais irmãos que
os outros, de partos individuais...
A família
delas era essencialmente feminina – as gêmeas, a irmã mais velha, a mãe e a avó
–, e elas costumavam ser paparicadas, sempre chamadas de “meninas”, mesmo
estando formadas em arquitetura, adultas o suficiente para saírem de casa, logo
quando quisessem.
Quem optou
pela arquitetura foi Karina, mas Karen sempre fazia o que a outra escolhia;
lembrando bem o “maria-vai-com-as-outras”, que tanto a sabedoria popular
repete.
Ambas trabalhavam na mesma empresa; ambas namoravam gerentes
de banco. Eram tão unidas, que uma vez Karina não quis ir a um evento. Karen,
que já tinha marcado com o namorado com antecedência, preferiu não ir também,alegando problemas de saúde. As gêmeas não se
largavam nunca...
Pâmela, a
irmã das duas, não confessava, mas a magoava bastante a atitude das caçulas de
a preterirem sob qualquer aspecto, como se ela fosse apenas “alguém da
família”. Uma diferença mínima de três anos, não a fazia com tal distância
etária assim, para que as gêmeas não pudessem
incluí-la.
O erro
talvez tivesse sido da mãe, que conversava coisas sérias ou banalidades em
separado. Primeiro, chamava a mais velha; depois as caçulas. Formava um “bloco
separatista”, feito um complô onde o “campo inimigo” não poderia saber os próximos
atos.
Mas Pâmela tinha orgulho delas. Considerava as “meninas” muito
inteligentes e descoladas, que ela poderia dizer para os amigos: “Foram as
gêmeas que fizeram!”, quando viam os muitos croquis que levava para o trabalho.
Ela mesma não tinha formação acadêmica. Mal terminara o Ensino Médio, e
fora chamada para ser atendente de guichê na Rodoviária Novo Rio. Falava o
inglês intermediário e o espanhol fluentemente, ambos idiomas aprendidos na
correria do cotidiano atendendo passageiros diversos. Também com um esforço
maior para o aperfeiçoamento.
Invariavelmente, Karen e Karina criticavam o jeito de se vestir de
Pâmela, sugerindo que ela fosse “jeca”.
Numa das poucas festas que as moças convidaram a mana mais velha,
assemelhava-se a um acontecimento nababesco, tal era o tato das gêmeas com a
vestimenta de Pâmela:
“Coloca essa blusa, com esta saia!” “Calça essa sandália!”
“Leva bolsa de
mão!”
“Pode deixar
que eu te maquio!”
E tantos
outros aconselhamentos, que a irmã mais velha quase desistira de ir.
Já na
festa, Karen e Karina passaram o tempo todo a observando, temerosas com algum
imprevisto que pudesse ocorrer.
Num
suor que escorresse de seu rosto, Pâmela tinha o aparato das irmãs: “Usa o meu
lenço!”
“Borrou um pouco
a maquiagem! Vamos para o banheiro para retocar!...”
A festa era de aniversário de uma colega das gêmeas, que passou o
evento mais na Lua que presente. Diziam as más línguas que era viciada em
remédios para dormir, por isso a dificuldade em manter-se atenta.
Muito parcamente Karen e Karina apresentaram Pâmela aos convidados.
Logo quando terminavam os cumprimentos básicos, arrastavam a irmã para um
canto, onde formavam algo parecido com um “cordão de isolamento” de duas
pessoas.
Em casa,
Pâmela repassou a festa passo a passo mentalmente. E descobriu, com amargura:
“Minhas irmãs têm vergonha de mim...”
Um dia as gêmeas saíram cedo, e nada de retornarem, deixando mãe e avó
bem preocupadas. A irmã mais velha também considerou a situação bastante
incomum.
Pâmela fora encarregada de
encontrá-las, já que o celular de cada qual só dava fora de área.
Anteriormente, a mãe ligara
para todos os amigos, colegas e, naturalmente, namorados, para que pudessem dar
alguma informação.
Nada.
Como a mãe estivesse muito
nervosa, Pâmela acabou sendo a mais indicada para pegar o carro em busca das
garotas.
Ela saiu
percorrendo todas as vias, desde as próximas da casa delas, até as mais
turbulentas, as clássicas do engarrafamento do trânsito no cotidiano.
Nada.
Apelou
para os hospitais. Apelou para a delegacia de polícia. Nada.
Desolada, Pâmela
retornara à residência com ar de desespero total.
– Nós perdemos as meninas.
Elas... elas... sumiram!...
Caiu num choro desabalado, tendo a companhia da mãe e avó
para colaborarem com a tristeza.
– Não procuramos em todos os
lugares; procuramos? – indagou a avó.
–
É mesmo... Talvez elas tenham ido para algum local que não costumam
ir... – ressaltou a mãe.
–
Quem sabe não foram àquele coquetel na Barra da Tijuca? – Pâmela jogou
essa opção no ar, embora não achasse cabível; elas não eram irresponsáveis,
portanto, avisariam.
–
Mas elas não tinham desistido? Pelo menos, foi o que disseram... – era
a mãe, em meio às lágrimas, tentando achar uma
esperança.
–
Amanhã vou lá... Nem vou tomar café! Elas podem ter resolvido no último
minuto... – disse Pâmela, tentando se situar na problemática.
A irmã mais velha estava inconformada. As gêmeas a preteriam em muitas
situações, mas eram as suas irmãs, as únicas que ela tinha.
Lembrou-se – a dor tem dessas proezas nos momentos mais impróprios –
que era a ela que as pequeninas recorriam, quando sentiam medo.
Pâmela já se formando mocinha, e aquelas gêmeas de placentas
diferentes - mas que nasceram iguais na fisionomia – ficavam perguntando se ela
já namorava. A pré-adolescente ria e dizia que estava a fim de um garoto do
clube. Era sempre a mesma pergunta, imediatamente, a mesma resposta.
Na verdade,
Pâmela custou a começar a namorar; as gêmeas se iniciaram em romances bem
antes.
Foi
exatamente na época dos beijos e abraços nos garotos, que Pâmela deixou de ser
a irmã protetora, para se tornar a “pertencente da família”; apenas isso.
Ela não era o
que as irmãs sonharam terem para si, como modelo de adulta.
Não se
ligava em moda, maquiagem, pintar as unhas, em compras fúteis, muito menos em
arrumar namorado toda vez que perdia um. Às vezes passava meses sem ter ninguém.
Já chegou a anos um período de sua vida...
Volta e meia
algumas pessoas sugeriam que Pâmela fosse homossexual, algo que as gêmeas não
negavam. Não que ela se vestisse masculinamente, mas pelo seu jeito recluso
para ter relacionamentos. Somada a isso, a pouca vaidade.
Quando
tentava se enfeitar, não ficava moderna. As gêmeas riam dela, e a pichavam sem
dó, com a mãe e a avó, que não compactuavam, mas também não a defendiam. Por
isso que nos raros convites para festas, tomavam à frente na arrumação para
garantir que não passariam vexame ao seu lado.
Mais uma vez
amargurada, Pâmela pensou, até com saudade: “Elas sentem vergonha de mim. E eu
gosto tanto delas... Espero que seja ‘gosto’ e não ‘gostava’...”
Não tão cedo, às 9h., a irmã mais velha se mandou para a Av. das Américas,
onde ocorrera o coquetel que as gêmeas mencionaram uns dias antes.
Elas
disseram que, por terem um projeto arquitetônico que deveriam entregar na terça
que vem, não iriam. E também não queriam chegar tarde.
Mas Pâmela era observadora, e não gostara nada do que a fisionomia das
meninas trazia. Um quê de alarme, algo velado, uma entrelinha perceptível na
voz...
“Será que tem a ver com o dono daquele escritório, que vive cantando as
duas?”, pensara a irmã mais velha na hora.
“Porque se ele for, é natural que as meninas não queiram ir... Como são
orgulhosas essas gêmeas! Custava dizer a verdade?” – continuara refletindo,
tudo em frações de segundos.
Ali na
Avenida, essa ideia retornou com força, levando-a a dar verdadeiros solavancos
com o veículo, já imaginando a vingança que armaria para o desgraçado que
fizera algum mal com as irmãs. “Ele não vai sair impune! Não vai mesmo!... Vai
pagar, e muito caro!”
Meio que
inconscientemente, Pâmela tinha se tornado a responsável pela família, desde
criança, quando perdera o pai aos doze anos. Não que a mãe fosse desleixada ou
louca, mas a ainda menina se sentia na obrigação de ajudar na criação das menores.
A morte do pai
se fizera em mistério para Karen e Karina durante metade de suas vidas.
Fora a
contradição dos fatos, que ficaram desencontrados a cada
vez que uma de suas parentas lhes contavam, que as
levaram à descoberta. “Ele corria demais, por isso, bateu num muro”; “Ele
dirigia bem, mas bateram no carro dele, não resistiu aos ferimentos...”,
“Dirigia em alta estrada quando, de repente, falhou o freio. Bateu no poste...
Não resistiu...”
Combinadas,
mãe, avó e irmã selaram o trato que o pai teria morrido de acidente de
automóvel. As minúcias do fato, com o tempo, foram sumindo, e as variações da
história surgiram, como é de se esperar quando se torce a verdade.
As gêmeas, já no começo da vida adulta, colocaram a irmã contra a
parede, e inquiriram, com vitalidade:
“O que
aconteceu de verdade com o nosso pai?”
“Ele
morreu de acidente na estrada... Vocês já cansam de saber!” “A VERDADE, Pâmela,
a VERDADE!”
“Essa é a
verdade...”
“Se você não nos contar AGORA, nunca mais te consideramos nossa irmã!”
(“Vocês já não consideram mesmo...’’, refletira Pâmela, com ar de contrariedade
e rebeldia, na época)
“Mas
o que vocês querem mesmo saber? Se ele demorou para morrer?...” “Só a verdade.
Só ela nos interessa!...”
Olhara para as
meninas e sentira que estavam prontas.
Afinal,
inventar mentiras dava muito trabalho. A moça já andava farta:
“Nosso pai
se suicidou. Com um revólver. Deu um tiro no ouvido e caiu morto no quarto.
Nossa avó que o encontrou.”
As gêmeas
ficaram estáticas. Não tinham boca para falar, só para emitir sons
indescritíveis.
“Vocês
estavam de férias na casa da nossa outra avó, a mãe dele, nem poderiam sequer
imaginar qualquer coisa desse tipo.” – continuara a mana mais velha, soluçando.
– “No enterro do nosso pai, todo mundo recebeu ordens expressas para jamais falar desse assunto com vocês.
Pela nossa
mãe, nem eu saberia a verdade, mas acabei descobrindo rápido porque a primeira
pessoa que a vovó enxergou entrando na sala, foi eu mesma. Nossa mãe só chegou
à noite, quando o corpo tinha sido levado para o IML.”
“E por que
Pâmela, por que ele cometeu esse desatino, essa doideira, meu Deus?” – Karina
perguntara, visivelmente incrédula por força do coração, não da razão, que
tinha consciência que a irmã dizia a verdade.
“Ele era
viciado em jogo. Apostava alto. Se reunia com outros viciados como ele para
partidas de pôquer.”
“Mas isso não é
ilegal?”
“Ilegal em
cassino ilegal. Em casa, com os ‘amigos’, quem é que vai dizer? A Justiça não
pode se intrometer em jogos feitos com clima familiar...”
“Para ele tirar
a própria vida assim, é sinal que foi grave a situação... Ele fez dívida de
jogo, não foi? Alguém
forçou ele a pagar, ‘tá na cara!” – Karen estava calada, mas resolvera falar.
“É, foi bem por aí... Mas o lance todo que causou o problema, é que
ele não tinha como pagar!... Teve que vender o carro, mas mesmo assim, não deu
para saldar a dívida. Quase que vendeu até a nossa casa, para vocês terem noção
do desespero dele... Ainda bem que teve juízo e não desamparou a família...”
“Então, ele se matou...” – constatara Karina, pesarosa – “E como ficou
pra quem ele devia? Começou a cobrar da nossa mãe, não foi?”
“Não. Por
incrível que pareça, não. Acho que a história do suicídio pegou até mesmo o
jogador para quem ele devia, de surpresa. Era um cara pai de família também. Só
era viciado em jogo, que até é considerado doença. Não tenho certeza, mas acho
que o nosso pai pensava em se tratar. Foi adiando, adiando, e a dívida
aumentando... E o mais estranho que, o tal jogador, por uma infeliz
coincidência, morreu de acidente de automóvel, do mesmo jeito que a gente
contava para vocês duas sobre o nosso pai!...”
As gêmeas,
por um tempo para elas suficiente, ficaram mais chegadas à irmã mais velha.
Coisa de semana. Transmitiam a sensação que entraram num “luto” voluntário e
precisavam de Pâmela para o conforto emocional. Passado aquele período,
voltaram com a indiferença costumeira.
Sentindo-se
desamparada, após encarar um trânsito que não ajudava, Pâmela já estava num
restaurante-bar onde ocorrera o coquetel da noite anterior, para averiguações:
–
Senhor, bom dia! – era a moça, cumprimentando o garçom – Poderia me
informar se houve um coquetel ontem aqui, e se há a lista de convidados?
–
Bom dia! Houve, sim! Mas não foi no meu turno... A senhora pode se
informar melhor com o gerente!
– Onde ele se encontra?
–
Com o gerente que está agora, não vai adiantar nada falar. O melhor é o
do turno da noite... O problema que somente a partir das 18h., ele estará
aqui... Mas aconteceu algo em nosso estabelecimento? A senhora me parece
cansada... Aceita um copo d’água?
–
Muito obrigada, mas prefiro voltar outra hora... Obrigada pela
gentileza! Tenha um bom dia!
Ele cumprimentou com a cabeça, com uma solicitude impressionante.
Passava a ideia de que, se pudesse ajudar, estaria a postos para tal fim.
Sem direção, Pâmela correu os olhos por todos os lugares, mas com
sensação de derrotismo: “O pior aconteceu. Elas se foram...”
Em casa,
deitada sozinha no sofá amplo, perto do meio-dia, ela que só pegaria à noite na
Rodoviária, recebeu a ligação sonhada no telefone fixo.
Era Karina, com
a voz tremendo:
–
Pâmela, por favor, vem correndo para a Francisco Bicalho! Karen precisa
de socorro... Perdeu sangue, muito sangue, vem logo, vem logo!
Cansada,
porém, contente, ficou a irmã mais velha. Karen estava ferida, mas viva!
No hospital, quando já tinham recebido todo o atendimento pertinente a
casos como o das duas, toda a situação foi explicada por Karina.
Segundo ela, as
gêmeas foram realmente ao coquetel.
Decidiram,
quando um dos colegas informou que um grande empresário poderia fechar um
trabalho particular com elas, que receberiam uma soma considerável.
Chegando ao
coquetel, perceberam, de imediato, que o chato do escritório se encontrava no
local. Como elas nada de avistarem o referido empresário, resolveram ir embora.
Antes, entretanto, fizeram um passeio no Centro da cidade, tendo
Karina dirigindo o veículo, com o foco e
a responsabilidade que lhe eram peculiares.
Estava tudo
bem, até receberem uma “fechada” de um doido qualquer, fazendo com que ela
freasse bruscamente. Karina bateu no volante e desmaiou. Karen sofreu o baque
maior, pois sua cabeça fora direto ao teto do carro, causando, assim, um
ferimento médio que, além de fazê-la perder os sentidos, também bastante
sangue.
Ninguém as
ajudara. Naturalmente, pensavam que fossem ladras ou algo parecido.
Quando
Karina finalmente voltou à vigília, mesmo com a bateria fraca do celular,
conseguira ligar para casa pelo tempo suficiente para a comunicação.
–
Mas Karen não está fora de perigo, disse a médica... – a mãe abalada com
a situação das filhas.
–
Ela perdeu muito sangue, é natural... Mas vai ficar boa! – acalmava
Karina, sem estar nem um pouco tranquila.
Não demorou
muito, e uma outra médica informou:
– A paciente Karen vai
precisar de transfusão de sangue. O estoque que tínhamos aqui, só dá para hoje,
mas para amanhã, está seriamente comprometido. Vai ser necessário um doador.
Alguém da família é B negativo?
Karina não
podia ajudar a sua irmã.
Eram tão
parecidas, tão unidas, tão gêmeas, no entanto, bivitelinos têm dessas ironias
do destino. Elas eram semelhantes na fisionomia, porém, no sangue, havia a
ingrata diferença: Karina era B positivo.
Entretanto,
a vida não cansava de jogar os dados da sorte, e estava em Pâmela, a não tão
irmã assim, a ajuda que a gêmea de Karen não poderia lhe proporcionar.
Sempre
reclamando, indagando a si mesma o porquê que tinha que ser negativo o seu tipo
sanguíneo, aquela ausência cruel do fator RH que complicava a segunda gravidez
de uma mulher que o portasse nas veias. Salvo em casos de bebês também com
fator RH negativo como a mãe, não havia problema.
Eis ali
toda a reclamação esquecida. Era Karen o seu segundo bebê, e de fator RH
negativo como o seu.
– Eu sou! Posso doar! – disse
Pâmela, com orgulho.
Espantada,
Karina comentou, com uma mistura de despeito e ciúme:
– Eu nunca soube que você era
do mesmo tipo sanguíneo de Karen...
–
Talvez porque você nunca tenha se interessado em saber... – era Pâmela,
com certa mágoa na voz.
Um mês
depois do incidente, as gêmeas se encontravam inteiramente reestabelecidas.
Pâmela passou a
ter um medo: a de “perdê-las” mais uma vez.
Karen e
Karina voltaram a ser as “meninas”, aquelas que tudo contavam para a irmã mais
velha, tão ligadas, tão amorosas...
Tinham retornado à rotina, incrementando novos
projetos, motivadas a trabalhar, a namorar... Tudo correto como deveria mesmo
ser.
De repente, surgiu um pensamento triste e louco na mente de Pâmela,
quando sentadas as três à mesa do café-da-manhã, rindo do mesmo dito engraçado
que uma delas puxou.
Mesmo em clima de descontração, a irmã mais velha insistia
com o pensamento, que ousou externar:
– Vocês não vão me deixar de
lado como faziam antes não, né?
– Como assim? – perguntou
Karen, verdadeiramente inocente.
–
Ah, vocês pareciam que tinham vergonha, sei lá... Ficavam me ignorando,
nem me consideravam irmã...
–
Pam, você sempre teve um espaço em nossos corações! – argumentou
Karina.
– Não é o que parecia... – uma
ponta de mágoa surgiu na voz de Pâmela.
–
A gente pegava um pouco pesado com você... – admitiu Karen, meio
contrariada consigo mesma – Mas é que você é meio estranha para uma mulher...
Assim... Não se cuida muito, não sei!... – para não ofendê-la: – Mas não me
importo mais, pode acreditar! Depois que você salvou minha vida...
Pâmela sorriu,
deixando escapar um pouco do tom de ironia:
–
Será que terá que acontecer sempre algo de impressionante na família,
para vocês se aproximarem de mim? Eu vou ter sempre que salvar a vida de uma de
vocês, para ser considerada irmã? – Pâmela agora apresentava indícios de
lágrimas no canto dos olhos.
Tocada, Karina
só disse:
– Não, não vai precisar...
Numa
inspiração momentânea, Karina desenhou, com uma caneta esferográfica que colocava
no bolso, num guardanapo de papel, três cabeças femininas, de cabelos bonitos
parecidos com os das três irmãs.
Quieta, Pâmela foi assistindo ao processo de construção.
Novamente o orgulho: “Como as gêmeas são talentosas!”
Karen
também acompanhava, sem saber ao certo, qual seria a mensagem. Terminado o
esboço bem feito, Karina o entregou à Pâmela, dizendo:
–
A partir de hoje, você não é só uma irmã. Você é nossa irmã! E pode falar para todo mundo que não temos diferença de
idade; nem grande, nem pequena.
Agora Karen
tinha compreendido totalmente o real intento da irmã. E sorriu.
–
Sabe por que não há diferença de idade? – prosseguiu ela – Porque
nascemos de um mesmo parto: somos trigêmeas!
Foi
assim que passou a ser conhecido o trio unido no sangue e na alma. No desenho,
cada uma assinou o nome.
Num quadro puseram a imagem, que
ficou pendurada acima do telefone fixo da mesinha de anotações do canto da
sala.Numa
moldura eterna. Inseparável.
Quem quiser ler antecipadamente todos os contos, basta clicar neste link do site Mary Difatto >>>>
http://www.marydifatto.com.br/2019/01/imprevistos-de-uma-viagem-cotidiana.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário